quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Haverá maior banda? (parte II)

O Matrix foi um clube mítico de São Francisco que alimentou a forte cena psicadélica da cidade. Foi lá que os Jefferson Airplane se fizeram - o facto do vocalista Marty Balin ser o fundador do clube teve o seu peso. E o mesmo se pode dizer de outros conterrâneos psicadélicos como os Grateful Dead (e os vários projectos paralelos de Jerry Garcia), os Big Brother and the Holding Company ou os Quicksilver Messenger Service - só para citar os nomes mais importantes.Outros charmes contribuíram para o culto da sala: os posters do artista plástico Victor Moscoso criados para o Matrix tornar-se-iam objectos de colecção; o clube era um dos locais predilectos do escritor gonzo Hunter S Thompson, ao ponto de mencionar o espaço noctívago na sua obra-prima "Fear and Loathing in Las Vegas".O palco do Matrix conheceu também os sons dos Velvet Underground ou de Santana, ou da nata dos blues como Lightnin' Hopkins ou Howlin' Wolf. Quando os Doors se deram a conhecer naquele clube, em Março de 1967, eram ainda ilustres desconhecidos. Faltavam ainda três meses para o grande público descobrir o grande 'hit' dos Doors, 'Light My Fire'. Jim Morrisson era ainda um jovem elegante, sem barba e com um cadastro magro de desordem pública, apenas manchado pelo incidente da interpretação-choque de 'The End' que provocaria o despedimento da banda do clube de Los Angeles, Whiskey a Go Go, dois meses antes.A meia-dúzia de gatos pingados que assistiu aos quatro sets dos Doors, dois por noite, ocorridos nos dias 7 e 10 de Março, no Matrix, merecem do guitarrista Robbie Krieger a simples memória de "ensaios pagos, foi assim que encarámos essas actuações". Mas um dos prevenidos donos, o enigmático Peter Abrams, tinha o hábito louvável de gravar todas as actuações ocorridas no clube. E aquilo que não tinha sido assim tão especial para Robbie Krieger, transformava-se num objecto de colecção precioso de uma fase precoce mas já muito química dos Doors, graças a um milagroso gravador de fitas que Peter Abrams tinha prudentemente instalado na tenda de som do Matrix pouco tempo antes.Depois destas gravações terem penado muito tempo em bootlegs ilegais e nas famosas importações italianas de má qualidade, e de terem merecido uma presença tímida na caixa dos Doors de 1997, as actuações da banda de Los Angeles no Matrix têm agora uma edição condigna através de um CD duplo que não regista a totalidade desses quatro sets.Além do alívio da boa qualidade sonora das gravações, chama a atenção a forte reincidência bluesy de "Live at Matrix" inédita em qualquer outro registo dos Doors. As várias versões de músicas nascidas nos blues e no r&b a isso ajudam: 'Who Do You Love' de Bob Diddley, 'I'm a King, Bee'de Slim Harpo ou 'Get out of My Life Woman' de Allen Toussaint (estas últimas duas, muito raras no reportório ao vivo dos Doors). O alinhamento do disco é muito baseado no então fresquinho álbum de estreia homónimo, mesmo que pingado por um ou outro tema que mereceria publicação posterior àquele Março de 1967 (como 'People Are Strange' ou 'Moonlight Drive'). Podemos ouvir os Doors em grande a interpretar o rebelde 'Break On Through (To the Other Side)', o simpático 'Light My Fire' ou a odisseia espiritual de 'The End'. Sentir a grande dimensão musical e teatral dos Doors ecoada numa pequena sala, e aplaudida por meia-dúzia de palmas de mãos é uma experiência surrealista para um fã da banda de Jim Morrisson e não só. Obrigatório!

1 comentário:

Tiago Carvalho disse...

Claro que há, tu é que és um fanático.