quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Magenta Skycode – IIIII




Magenta Skycode’s IIIII was my favorite debut album from 2006. The group from Finland stunned me on first listen, with a unique sound that bordered between eerie and mystical. As I wrote when including this as #11 on The Best Albums of 2006, it is ironic that the band has an interest in monochromatic photography, as their music is anything but colorless. In fact, it’s incredibly vibrant and colorful, all while maintaining to be serene and enjoyably atmospheric. Sounds like autumn to me. With an assortment of synths and gentle guitars, Magenta Skycode utilize the natural art of clapping as percussion whenever they can. It is in perfect form for IIIII, not being overused or underestimated. “Go Outside Again” is a good example of the execution, being my favorite on the album.The song initially works around a building guitar-led verse, as some beautiful synth complements the surroundings before the ascent into a enigmatically catchy chorus. Magenta Skycode never got the attention they deserved, but they seem to have a new full-length on the way. I imagine a feature in the near future is imminent for that. But in the meantime, enjoy these great sounds from the band’s debut, IIIII. In addition to being the most impressive debut of 2006, it is a great album for autumn.

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Radiohead e novo álbum




OOs Radiohead terminaram um novo grupo de canções para o sucessor de "In Rainbows". A revelação foi feita pelo baixista Colin Greenwood num artigo para o site Index On Censorship: “Já despachámos mais uns quantos temas. Agora estamos a pensar de que maneira os vamos lançar num panorama digital diferente.”



“Parece que ficou mais difícil ter música de forma tradicional, num objecto físico, tal como um CD. Agora a música parece ser o primo pobre do software, do streaming e da reprodução com fraca qualidade de um Ipod ou de um telemóvel”, diz Greenwood.



Pelo meio das palavras mordazes do músico, o baixista confirma as declarações recentes do guitarrista Ed O'Brien sobre o facto da banda já ter terminado de gravar o disco. A data de lançamento, seja em que formato for, está prevista para o final deste ano.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

The London Fog


The London Fog was a 1960s nightclub located on the Sunset Strip in what was then unincorporated Los Angeles County, California (now in the city of West Hollywood). It is most notable for being the venue where The Doors had their first regular gigs for four months in early 1966 before becoming the house band at the Whisky a Go Go.[1]

The London Fog was located just west of the Whisky a Go Go, at 8919 Sunset Blvd., in the space now occupied by Melody Nail & Beauty Salon. Well-known rock music managers Tony Dimitriades and Elliot Roberts had their offices on the second floor of this same building in the 1980s. Long claimed to be the site of the London Fog, Duke's Coffee Shop actually replaced Whisky neighbor Sneeky Pete's, a nightclub featuring music, which has also been variously claimed to have replaced the London Fog, after Duke's relocated from its original location

next to the Tropicana Motel on the northwest side of Santa Monica at La Cienega, in 1980.[2][3] .[4]

In Oliver Stone's 1991 film The Doors, the scenes depicting the London Fog were actually shot at the location that became the Viper Roomin 1993.[5]


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Breaking Bad


Quem por cá costuma passar já está habituado a umas propostas tanto visuais como auditivas um pouco alternativas. Desta vez é uma série que me tem deliciado pela sua crueza e pela sua veia assumida de politicamente incorrecta. Não estejam à espera de uma série que vos entretenha num sábado à noite ou que vos faça desligar da realidade do dia-a-dia, esta série dá uns murros no estômago.
Dos mesmos criadores de ”The X-Files”, não tem nada de sobrenatural nesta série. A expressão “breaking bad” é usada quando algo que já estava mal, fica ainda pior. E é exactamente isso que acontece com Walter White, um professor de química, que vivia a sua vida tranquilamente quando, boom! Um diagnóstico terminal muda tudo. Liberta-o. Começa a usar as suas habilidades em química de outra forma: monta um laboratório de drogas para financiar o futuro da sua família. Já ganhou uma série de grammies, um deles para melhor actor principal...


sábado, 25 de setembro de 2010

The Doors, Songs From The Motion Picture When You’re Strange


O documentário, assinado por Tom DiCillo foi uma relativa desilusão, na verdade não juntando um efectivo olhar novo sobre a história de Jim Morrison e dos Doors. Agora chega a banda sonora de When You’re Strange. Tal como o filme, o disco tem o mérito de saber arrumar a história que nos conta. E basta consultar o booklet (ou mesmo a contracapa) para ficar a conhecer por que caminhos (áudio, desta vez), vamos caminhar. O disco é um pouco como o retrato feito de sons de alguns dos momentos que vimos no filme, desde os poemas (de Jim Morrison, com a excepção de Doors Of Perception de William Blake) na voz de Johnny Deep aos momentos históricos vividos frente às câmaras (como a passagem pelo Ed Sullivan Show em 1967, uma outra num programa televisivo dinamarquês em 1968 ou instantes de actuações ao vivo ora na Ilha de Wight ora em Nova Iorque, ambas em 1970). Pelo meio encontramos uma série de canções marcantes da obra dos Doors como Crystal Ship, Hello I Love You, Touch Me ou L.A. Woman. Não mais que um complemento directo do filme, a banda sonora de When You’re Strange está longe de ser uma antologia para iniciados, parecendo mais destinada a morar entre as discotecas dos mais incontornáveis admiradores dos Doors.
Na minha pois claro está!

sábado, 18 de setembro de 2010

Blonde Redhead “Penny Sparkle”





Editado em 2007 o álbum a que chamaram, simplesmente, 23, marcou uma vontade de mudança de rumo na carreira dos Blonde Redhead. É certo que a sua obra já tinha ensaiado em algumas ocasiões as cores garridas das linguagens pop, e o anteriorMisery Is a Butterfly (2004) havia tacteado caminhos adiante das fundações no waveque em tempos haviam definido a sua identidade. 23 olhava em frente o momento da mudança, propondo um alinhamento de tons suaves, cores garridas e sabores doces que se afirmaria não apenas como um dos grandes discos do ano como era casa para algumas das melhores canções pop dos últimos anos (Silently, por exemplo, ainda hoje é irresistível). Três anos depois, em Penny Sparkle, fica claro que não desejam reencontrar os caminhos que Misery Is A Butterfly e 23 já haviam deixado para trás. Mas, face às cores da mudança reveladas no álbum de 2007, o novo disco parece coisa mais tímida e murmurada… Penny Sparkle é, ao contrário do imediatismo pop de23, um álbum que nos pede algum tempo. Pelo seu alinhamento corre um gosto pela elaboração de cenografias que é já antigo na obra do trio. Mas em lugar da luz sorridente das canções de 23, esta é uma colecção de suaves canções feitas de melancolia outonal. As electrónicas continuam a partilhar o palco com as guitarras, os ambientes tranquilos permitindo sempre o protagonismo da voz de Kazu Makino, num registo sussurrado que acentua o tom discreto de um álbum bem mais discreto que o seu antecessor.

Fonte:

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Moon vence Hugo Award

Foi um dos melhores filmes que assisti ultimamente.

O filme Moon, de Duncan Jones, venceu a categoria Best Dramatic Presentation, Long Form (que é como quem diz longa metragem de ficção) dos Hugo Awards 2010, os prémios anuais do mundo da ficção-científica. O filme estava nomeado nesta categoria juntamente com Avatar, Star Trek, Up e District 9. Entre a premiação dos Hugo Awards deste ano destaque-se um empate na categoria principal (a que elege o melhor livro de ficção científica do ano), distinguindo ex-aequo The City & The City, de China Miéville e The Windup Girl, de Paolo Bacigalupi.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Eels: Música para ser um homem melhor




Catorze anos depois da estreia dos Eels, Mark Everett tem novo disco. "Tomorrow Morning" anuncia, outra vez, que o mundo não é assim tão mau

"Uma das vantagens de ser um cantor rock é poder ficar num bom quarto de hotel", diz o cantor rock, apropriadamente sentado num belíssimo quarto de hotel de cinco estrelas junto ao Hyde Park.

À porta do edifício, árabes saem de Rolls Royce vintage e são recebidos de braços abertos por britânicos enfarpelados em Armanis (ou derivados) da cabeça aos pés. Nos sofás da entrada, mulheres bem postas passeiam os dedos pelos colares antes de porem papéis à frente de homens bem penteados que retiram canetas reluzentes do bolso. Algures numa mesa uma senhora esquece-se de um gancho para o cabelo. Pensamos em ficar com ele, mas depois alertamo-la para o esquecimento. Ela agradece muito, que lhe é uma jóia muito querida, agradece com a polidez caricatural dos britânicos enquanto disfarça um certo ar de nojo perante a indumentária do benfeitor.

Isto não é rock'n'roll e, mesmo que fosse, não era o mundo de Mark Everett, o líder dos Eels. Ele está aqui apenas e só para receber jornalistas de todas as partes do mundo e assim promover "Tomorrow Morning", o terceiro disco de uma trilogia começada com "Hombre Lobo" e seguida com "End Times". O disco só sai dentro de dez dias, mas já se pode adiantar que é provavelmente o melhor dos três - e o melhor disco dos Eels em muito tempo.

Sendo Mark Everett quem é, as coisas não podem correr bem. Ele pode até ter um belo e caro quarto à sua disposição, mas isso não altera a percepção que o mundo tem sobre ele.

No dia anterior à nossa visita, tinha sido detido pelas autoridades inglesas. "Foi mesmo ali", diz ele, apontando para um lugar vago no Hyde Park. "Eu estava simplesmente a passear e eles vieram ter comigo e começaram a fazer-me uma data de perguntas. Só me libertaram quando eu lhes mostrei a chave do quarto do hotel e foram verificar que eu estava mesmo aqui registado. Depois explicaram-me que andavam à procura de um terrorista parecido comigo".

O incidente levou a uma já célebre declaração de Everett, em que dizia que nem todos os que têm barba são terroristas, alguns "just want to rock out".

Essa é a primeira conclusão que se pode tirar do caso. A segunda é que, pelos vistos, os terroristas usam barbas compridas mas não frequentam hotéis caros. (Já imaginaram alguém poderoso e perigoso a frequentar um hotel caro?) E a terceira é que nada disto é estranho tratando-se de Mark Everett: o homem tem uma nuvem cinzenta a pairar sobre a sua cabeça desde que nasceu.

Surpresa, isto afinal é bom

O primeiro encontro com ele confirma essa impressão. Estamos na sala do quarto de hotel, na companhia do agente, a ver o Mundial, quando E surge do quarto onde atende os clientes, seja cara-a-cara, seja por telefone. Ele surge, calças apertadas e desbotadas enfiadas em botas de lenhador, camisola interior com suspensórios, barba enorme, óculos idem, boné na cabeça, e antes de dizer "bom dia" já lançou "Este jornalista italiano era um idiota".

"Ai sim?", pergunta o agente, "então porquê?".

"Acreditas que ele pensou que, quando eu canto 'My baby loves me' [na canção com o mesmo nome], estava literalmente a referir-me a um bebé?"

O agente ri-se. Nós ficamos calados, só um ligeiro sorriso.

"Não consigo perceber como é que um jornalista pode interpretar de forma tão literal", continua ele.

"Talvez não seja bom a inglês", diz o agente.

"Se ele soubesse ler, não seria jornalista, não é?", arriscamos.

Ele grunhe. Não, é um sorriso.

"Espere só para ver as minhas interpretações das suas letras".

Ele grunhe ainda mais. Não, é um riso.

"Nos últimos tempos andei a reflectir sobre o que se passava comigo", diz E, já no cadeirão do seu quarto com vista para o Hyde Park. "E isso acabou por tornar-se um conceito". Fala rápido, não toma muito tempo para reflectir, mas, quando toma, isso cria aquele tipo de silêncio que vulgarmente se toma por incomodativo.

"A ideia é que a felicidade pode ser uma escolha e, se se fizer essa escolha, e se se tiver alguma sorte, os acasos talvez nos levem à felicidade". Prossegue: "No fundo, o conceito é uma coisa fora do comum no rock: um tipo tornar-se um homem melhor. E talvez com isso venha uma mulher". Faz uma pausa e acrescenta: "Acho que é um pouco nobre tentar-se ser um homem melhor".

Uma qualquer força estranha impede-nos de rebolar no chão a rir. Ponderamos por um segundo e concluímos que ele está a falar a sério. Então arriscamos perguntar-lhe se há algo de judaico-cristão nesse tão toscamente verbalizado "ser um homem melhor". Algum tipo de culpa, contas a pagar, etc.

"Não, não sinto nenhum tipo de culpa, pelo menos não muitas vezes. Quando a sinto, sei que deve haver uma razão para ela".

E fim de história: o homem não quer ser excessivamente escrutinado e está no seu direito. "Acho que já tentei dizer vezes suficientes no passado que a vida não é assim tão má, e agora estou a dizê-lo outra vez, só que de forma mais aberta".

Esse é, diga-se, o som de "Tomorrow Morning": um ligeiro véu de melancolia a cobrir refrões que resplandecem (isto para usar uma imagem ridícula.)

"Essa é a ideia", diz ele, ao ouvir a imagem ridícula. "É a grande reviravolta que há em cada canção: surpresa, isto afinal é bom", conclui. Mas há coisas que não mudam e, depois deste momento de unidade com o mundo, E, como um Larry David rural, resmunga: "Não percebo como é que o italiano achou que era mesmo um bebé. Se fosse mesmo um bebé seria repugnante".

Corrida contra o tempo

Eis o lado obsessivo de Mark Everett, uma faceta que ele assume, embora não às claras. Vê-a como "uma ética de trabalho muito forte". "Muitas pessoas não conseguem acabar o que fazem", explica. "Eu acabo coisas a mais. Se decido fazer uma coisa, faço-a até ao fim. Se decido fazer três discos de seguida, faço". Aqui ele faz uma das suas pausas, que surgem sempre de forma brusca: está a dizer uma coisa com uma rapidez notável e de repente pára, sem que um tipo saiba se parou de vez ou só para ganhar balanço. Lá se aproveita a pausa para tentar olhar pelo buraco da fechadura da vida privada do homem.

"Se isso me retira da vida normal muitas vezes? A resposta é simples: suga-me a vida por completo. É preciso estar muito concentrado, não pensar em mais nada se não no que se está a fazer e aonde se quer chegar. Não há mais nada, não pode haver mais nada".

Tal como a culpa tem uma razão no mundo de Everett, a pressa também. Ele anda assumidamente "a correr contra o relógio", por causa da "história" (expressão dele) do pai: "Estou a chegar à idade com que o meu pai morreu e tenho cada vez mais consciência disso". O tiquetaque do tempo é duplo: a sombra da morte do pai, numa família em que a morte é visita constante.

Terá sido esse tiquetaque a alimentar a ambição de fazer uma trilogia num só ano. "Hombre Lobo" (2009) era "sobre o desejo", "End Times" (2009) "sobre a perda de amor", e agora "Tomorrow Morning" é "sobre um novo começo". Uma espécie de ciclo da vida, que Everett explica de forma sucinta: "O desejo leva-nos a alguma coisa, depois pensamos que tudo acabou, e a seguir sentimos que amanhã teremos outra hipótese".

De acordo com o plano inicial, E queria "acabar com um novo começo", pelo que tinha "de começar por pôr a sementinha". "Foi muito divertido ser um lobo", diz. Isto é: ser um predador sexual, tal como em "Hombre Lobo". Se isto parece conversa de pessoa normal, Everett faz questão de nos lembrar logo a seguir, que não é: "Mais divertido só fazer de conta que sou um terrorista".

"Tomorrow Morning" é o tipo de disco que invariavelmente leva os críticos a usarem expressões como "camadas". Pequenas melodias vão-se sobrepondo, criando ambientes, até que, no refrão, a canção abre-se de forma inesperada, como aquelas flores nos documentários sobre a natureza que aceleram a imagem para mostrar a passagem do tempo.

Mas mais do que em sobrepor camadas (ou texturas), E estava interessado no erro: "Queríamos aproveitar os erros, por isso samplámos tudo desde o primeiro momento. O erro pode ser muito interessante e usámo-los o mais que pudemos". Também lhe interessam a diversidade de géneros que o disco abarca, e a subversão que aplica a cada género. "Nenhum músico quer pertencer a um só género", diz, visivelmente afastado da realidade. "Não quero que uma canção gospel minha [que há neste disco] seja um gospel clássico [não é]. Tem de soar a 2010 e tem de ser a minha versão".

O exemplo Tom Waits

Há que reconhecer que ele é um desses tipos: quando se ouve uma canção dele, sabe-se que é dele. Talvez o único elemento comum seja a voz, mas lá que marcou o seu pequeno território, marcou. Ou não: "Não sei se a minha voz autoral é imediatamente identificável. Por um lado, é porreiro termos um nicho reconhecível, por outro isso é tremendamente limitativo. Deixo essa questão para os ouvintes".

Everett também não tem muita certeza de ter o seu lugar numa espécie de "middleground", algures entre o imenso reconhecimento da estreia e a obscuridade. "Quando os Eels começaram", lembra, "estávamos o tempo todo na MTV". A experiência foi "doentia", mas teve uma vantagem: "Deu para ver tudo o que detestava". E acerca desse "middleground", só tem uma coisa a dizer: "O Neil Young dizia que no lixo se encontram coisas muito mais interessantes".

Young é um dos heróis deste tipo - que sabe que nunca será tão grande como os que admira e se dá por contente por ter vindo "parar aqui", a este lugar que "alguns dos tipos que sempre foram heróis" são hoje seus amigos. Como Tom Waits.

Isso talvez explique um lado menos inquietado que parece sobrevir em Everett. É um tipo com objectivos e que, olhando para o futuro, diz: "Não me parece muito digno ter 55 anos e pôr tipos de 20 anos a gritar".

Será que ele pede conselhos ao seu amigo Tom Waits sobre como envelhecer com classe?

"Peço, claro. Mas não é preciso: basta olhar para o que ele fez. É um exemplo".

É improvável, mas quem sabe?, talvez dentro de 30 ou 40 anos estejamos a olhar para este homem como olhamos hoje para Waits.

fonte: ipsilon.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ainda Best Coast com Bethany Cosentino






Porque é que este conjunto de canções esgalhadas à guitarra em três singelos acordes e com uma voz feminina, a de Bethany Cosentino, um disco todo superfície, refracção brilhante do sol na chapa cimeira da água, nos alegra e comove tanto? Porque esta música representa um último Verão, uma última adolescência quando o Verão já acabou e a adolescência já passou. Mas "Best Coast", o disco, vai durar mais de uma estação


Há um cliché, muito usado por estes dias pelos nossos intelectuais, que diz assim: a internet fez com deixasse de haver tempo para reflectir, toda a gente reage instantaneamente, o mundo está perdido.
Bem, o mundo está perdido desde que o primeiro homem assolou à costa e demorou semanas a convencer a serpente a pôr uma palavrinha por ele junto à primeira mulher. E o diabo da bicha internáutica pode ser muito irritante, sim senhor.

Mas numa pequena parcela do universo binário, aquela relativa à música em mp3s descarregados à má fila, a internet deu-nos mais tempo.
Parece estranho? Não é: os discos saem cá para fora antes de serem editados oficialmente e ouvimo-los durante meses antes de chegarem às lojas. Na maior parte dos casos já nos cansámos deles quando têm preço e etiqueta. Numa ou outra excepção ficaram-nos na cabeça e tivemos oportunidade de pensar sobre eles, como tínhamos antigamente, quando nos juntávamos à volta da fogueira do vinil para ouvir cantar histórias.
No intervalo de tempo entre descarregarmos ilegalmente o disco de estreia homónimo dos Best Coast e a saída oficial do disco, uma pergunta assolou-nos: porque é que este conjunto de canções esgalhadas à guitarra em três singelos acordes e com uma voz feminina a lembrar as girls bands dos anos 60, um disco tão nitidamente escrito para ser todo superfície, refracção brilhante do sol na chapa cimeira da água, nos alegra e (quase) comove tanto?

Fomos alinhavando hipóteses: nostalgia, similitude com outras bandas que gostamos. Mas nostalgia de quê, se não éramos nascidos quando surgiu o surf-rock e as girl-bands? E de que vale a semelhança quando temos o original?


Depois Bethany Cosentino (vocalista, guitarrista, compositora e letrista dos Best Coast) fez-nos uma simples confissão cuja essência é um mote geracional: "Quando escrevi as canções não andava feliz". Houve ali uma ligeira pausa, como que para reflectir, embora possivelmente tenha sido para afagar o seu gato, ostentado na capa, e enfim a frase: "Andava confusa, a sentir que estava a ser manipulada numa relação, a pensar nas minhas relações passadas, a pensar o que fazer com a vida".
Ela diz isto com a mais absoluta inteireza, sem pose, tudo limpo. Não é um tratado ontológico, é um símbolo: daquilo a que o psicólogo americano Jeffrey Jensen Arnett chamou "Emerging Adulthood", a ambiguidade entre ser adolescente e ser adulto, aquela sensação de que aos quase trinta ainda não se assentou como se esperava de nós, e que mesmo quando se assume uma responsabilidade há sempre o quarto dos pais à espera.

Arnett tem estudado o caso ao longo das últimas décadas e defende que os vintes deviam ser vistos como uma nova faixa etária. A seu favor, mais que as suas pesquisas, tem a obra completa do cineasta Wes Anderson - e os maravilhosos Best Coast.
É isso que esta música representa: um último Verão, uma última adolescência quando o Verão já acabou e a adolescência já passou: aquilo lá fora é o Inverno e isto que é nada é a tua conta bancária. Mas enquanto não cortarem a electricidade, pode-se ouvir os Best Coast.

Nostalgia

Até ao início de 2010 ninguém tinha ouvido falar deles. Depois, uma canção aqui uma canção ali, à moda dos singles, houve palminhas primeiro, rumores a seguir e há uns meses, quando o disco todo fugiu pelas frinchas da legalidade, uma enorme vaga de clamores. De repente os Best Coast estavam em todo o lado, com um simples truque: Ramones sem a droga e com uma "afilhada" de Ronnie Spector ao microfone.
Beth recorda o momento em que a bola de neve se tornou demasiado grande para poder segurá-la: "A banda existia há um ano quando tocámos no South By SouthWest. Mas no festival as coisas começaram mesmo a rolar e a partir daí começámos a tocar muito ao vivo. Aí sim, foi tudo rápido, aconteceu da noite para o dia. Não esperávamos por isto, ficámos muito surpresos".

Ainda assim, assume que desde o primeiro dia foram muito falados, "para uma banda pequena, claro". Os amigos e os músicos que iam conhecendo "sempre [nos] aconselharam a gravar".
Não são como a maior parte das outras bandas: não são quatro amigos de infância que eram maltratados no liceu e quiseram vingar-se, não são um trio que quer papar garotas (apesar de isso ser respeitável). São um rapaz e uma rapariga, só.

Mesmo no processo de escrita não funcionam como a normal banda pós-adolescente que se reúne numa garagem e ensaia até à morte por sudação excessiva: "Escrevo as canções em casa, gravo para o pc, mando ao Bobb [Bruno], digo -lhe ao que quero que soe e ele depois faz as harmonias e arruma as canções. É tão simples quanto isto", remata.
Um ano antes, quando ela começou a banda, "queria soar às Ronettes e às Crystals", vontade que se devia "à [minha] condição emocional da altura". Mas depois "a guitarra e o Bobb interpuseram-se e as coisas seguiram o seu caminho natural".
A razão pela qual Bethany queria ser a Ronnie Spector de 2010 é simples: o seu passado.
"Cresci na Califórnia a ouvir Beach Boys. E quando digo os Beach Boys não me refiro só ao 'Pet Sounds', mas também aos primeiros discos. Os meus pais estavam sempre a ouvi-los e a tudo o que vinha da Motown. Fazem parte de todas as minhas memórias".
Bethany diz ser "muito nostálgica" e admite que boa parte dos seus dias (antes de dar concertos dia sim dia não) passava-se a "pensar muito no passado".
"Não só gosto de me lembrar do passado como gosto do que me lembra o meu passado". Daí a constante recordação de "toda essa gente que escrevia canções sobre rapazes e raparigas, tudo muito simples - bem, no caso dos Beach Boys às vezes era musicalmente muito complexo, mas as letras ainda assim eram simples".

Ela está tão ligada ao passado que quando vivia em Nova Iorque andava no metro a ouvir os Beach Boys "só para se lembrar da praia e afastar todo aquele negrume."
Nova Iorque só surgiu na vida de Beth já depois de ter andado a fazer música experimental com os Pocahaunted. "Não gosto de música experimental, de todo" - o que pode parecer surpreendente, tendo em conta que editou basta música com a banda. "Quando fazia essa música ia para casa a seguir aos concertos ouvir Bruce Springsteen e Billy Joel".
Esta ambiguidade, a do ainda-não-adulto, a do tipo que embarca nisto só para ver no que dá enquanto não tem mais nada para fazer, mas até gosta mais daquilo, parece grassar pela vida de Cosentino: foi actriz muito nova e depois voltou à escola, foi uma espécie de sucesso musical da net na adolescência, mas quando as grandes editoras quiseram contratá-la ela mandou-as à fava. Nada de responsabilidades, sff. É essa ambiguidade que ilumina estas canções.

Boy meets girl

É então que ela diz que "[no disco] é tudo muito adolescente" e nós retorquimos que não é adolescente, é "emerging adulthood", ao que ela não respondeu (e fez bem, é preciso não se ter muita cabeça para vir com uma expressão dessas).
Ela começou a escrevê-lo em Nova Iorque devido ao "negrume", depois de se juntar (musicalmente) a Bobb Bruno.
Não diminuamos o papel dele: o essencial, diz Beth, "as bases de guitarrra", é feito primeiro por ela, depois "o Bobb cria por cima" e o que ele cria não é pouco: linhas de guitarra surf-rock, uns ademanes à Jesus & Mary Chain, etc. Ela pinta a praia e o pôr-do-sol, ele pinta o barquinho.
"Há muita coisa pensada nas nossas canções, mas depois vamos experimentando tudo o que podemos. Nós só tínhamos uma semana e meia para gravar o disco, pelo que todas as ideias que tínhamos foram usadas. Não é como se pudéssemos estar um mês a fazer cálculos sobre o que entrava e não entrava".

Na cabeça dela estava tudo certinho: "Queria que fosse um disco que as raparigas gostassem. Elas vêm-me dizer no fim dos concertos "As tuas canções lembram-me a minha vida". Eu gosto disso, porque já estive desse lado".
Aparentemente moça sem demasiada poeira na cabeça, capaz de reflectir sem adornar as palavras só para encher chouriços, admite que o que escreve é, basicamente, "queria que gostasses de mim". "Para ser honesta não consigo relacionar-me com bandas como os Radiohead de forma tão íntima porque é tudo demasiado metafórico. Eu posso escrever sobre acordar com limões na boca, mas não ia acreditar no que estava a cantar. Eu canto sobre línguas na boca".

O que ela procurava com o disco é que "a música fosse revitalizante e desse vontade de dançar" - mas em fundo houvesse "uma tristeza nas letras". "É interessante quando se vai ouvir o que se está a cantar e é tudo muito triste, com solidão e separação e mesmo assim tem de se dançar ou cantarolar a melodia".
Se na adolescência ou se chora ou se dança, aqui dança-se e chora-se ao mesmo tempo, perguntamos. "Sim, é essa ambiguidade, é isso que gosto. Todos esses discos antigos de que eu gostava, dos anos 60, eram escapistas. E este, por ser tão solar e surfeiro, também se torna escapista".

Escapista é um termo por norma pejorativo, mas não nas regras de etiqueta de menina Cosentino. "Habituámo-nos a ouvir essa música como escapista e é essa a nossa resposta a este tipo de música. Eu gosto disso. Queria que quem comprasse o disco se lembrasse de praia. Mesmo que estivesse na cidade, durante o inverno e com chuva".
"Best Coast", o disco, vai durar mais de uma estação. Talvez depois fique na prateleira durante anos, mas um dia iremos tirar-lhe o pó e vamos ouvi-lo com um agrado raro, o agrado de quem já foi adolescente mas não exactamente assim e queria que tivesse sido assim, ou que tivesse percebido que as raparigas eram assim porque agora, com idade e distância, essa "assim" das adolescentes é comovente.

Quanto a Beth, duvidamos que algo a pare. Depois de colaborar com Kid Cudi, está numa de rap. "Ando a ouvir muito Lil'Wayne e Drake", diz, demonstrando o seu bom gosto. Perguntamos-lhe se era moça para colaborar com Drake e ela não só atira uma bela linha de Seinfeld como mostra que sabe ser marota: "I love the Drake. Fazia tudo com o Drake".
Gotta love Bethany Cosentino


Disponível em http://ipsilon.publico.pt/musica/texto.aspx?id=264812

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A TETA ASSUSTADA

Entre os turbulentos anos 70 e 90, em que o Peru vivia aterrorizado nas mãos de Sendero Luminoso (organização terrorista fundada, em 1960, por Abimael Guzman), nasceu uma crença sobre uma doença transmitida pelas mulheres violadas que estivessem grávidas ou a amamentar: o seu leite estaria contaminado pela tristeza e essas crianças seriam, para sempre, infelizes e desalmadas.
Fauta (Magaly Solier), ainda no útero materno, assistiu à violação da sua mãe e hoje é uma Teta Assustada. Agora, depois da morte dela, para que possa sobreviver ao mundo, terá que curar a sua tristeza e ultrapassar o seu medo paralisador.
Segunda longa-metragem da peruana Claudia Llosa (depois de "Madeinusa" em 2006, também com Magaly Solier como protagonista), foi nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro de 2010, sendo o filme vencedor do prestigiante Urso de Ouro em Berlim (2009).


«Um belíssimo filme cuja aparente simplicidade e tranquilidade escondem discretamente as turbulências de uma jovem que aprende a viver no mundo real.» Jorge Mourinha, Público

«(...) há momentos inesquecíveis, como a função da língua quechua na lógica poética das canções do filme ou os planos orgiásticos de casamentos ou ainda actos quotidianos mínimos, desde as deambulações da protagonista pela casa quase assombrada até à subida das intermináveis escadas para o bairro, a lembrar imaginários templos.» Mário Jorge Torres, Público
FESTIVAL DE BERLIM -- URSO DE OURO (MELHOR FILME)
ÓSCARES 2010 -- nomeação MELHOR FILME ESTRANGEIRO

domingo, 12 de setembro de 2010

Peter Saville no futebol


Nos anos 80, Peter Saville (na foto) era um dos principais designers da mítica editora Factory. Da sua mão saíram trabalhos para os Joy Division (a capa de "Closer" é da sua autoria) ou Buzzcocks. Trinta anos depois, Peter Saville embarcou num novo desafio: desenhar o novo equipamento da selecção inglesa de futebol.

Em terras de Sua Majestade é comum o futebol e a música andarem de mãos dadas e Saville é apenas mais um exemplo. O seu novo trabalho estreou no passado dia 3 de Setembro e nas palavras do designer «reflecte a forma como a nação e os fãs são cada vez mais diversificados».

A t-shirt de desenho vintage é branca e ostenta apenas o logotipo da marca desportiva patrocinadora e o brasão da federação inglesa. «O futebol é uma linguagem que toda a gente entende e com a qual se relaciona. Este equipamento é a tela perfeita para reflectir a Inglaterra dos dias de hoje».
Resta agora saber se a inspiração de Saville vai ou não ajudar a selecção inglesa na sua campanha rumo ao Europeu de 2012.

sábado, 11 de setembro de 2010

The Walkmen - Lisbon











Some unfinished songs from Lisbon came my way early this year, back when NPR Music was trying to put a lineup together for SXSW in March. We'd heard that The Walkmen had been putting the finishing touches on a new record, we liked the demos, and the band was going to perform with a horn section — we were sold.

Live, the new material The Walkmen performedonstage at Stubbs was appealing — and I was immediately struck by the horns in a song called "Stranded."

As I spent more time with Lisbon, The Walkmen's sixth studio album, I discovered that the strength of this record lies in its sparseness, and that the horns in "Stranded" made it the odd song out on this record. The strength inLisbon is restraint — the high-on-the-neck lilting guitar and the interplay between that guitar and the way the words are delivered.

When we introduced the song on the All Songs Considered blog back in July, singer Hamilton Leithauser told us about the band's trips to Portugal.

"We took two trips to Lisbon over the course of writing this record," Leithauser said. "None of us had ever been there, and we were really blown away by the place. The topography and architecture are stunningly handsome. Even when we were there for the rainy season — it literally never stopped raining — it was a trip that outshone a lot of others. We've never had much luck at all in Europe, and the Portuguese were surprisingly accommodating. I think those two trips really helped keep us motivated while making this record. We named the record Lisbon as sort of a 'thank you' and a small tribute."

The album was recorded in two studios, with some of the more pensive tunes done in New York. The album was finished in Dallas, where some of the rockier numbers were recorded.

The intention was to make a short record, and to do that, the band sifted through more than two dozen songs written in the past few years. The 11 tracks chosen for Lisbon make this The Walkmen's most cohesive record. It leaves me wanting more, and that's a good thing.

Lisbon will stream here in its entirety until its release on Sept. 14. Please leave your thoughts on the album in the comments section below.

Listen to the whole album here: http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=129177585

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

xx vencem Mercury Music Prize

Os The XX, com o seu álbum homónimo, são os vencedores da edição 2010 do Mercury Music Prize, o mais importante prémio atribuído em solo brtiânico, a votação sendo decidida por um painel de profissionais ligados à indústria discográfica. Entre os nomeados contavam-se nomes como os de Paul Weller, Wild Beasts, Foals ou Dizzee Rascal.

sábado, 4 de setembro de 2010

Wavves, King Of The Beach




O momento mais mediático com assinatura Wavves entre a edição do seu disco anterior e o lançamento do novo King Of The Beach chegou em meados de 2009 quando, em plena actuação no Primavera Sound, em Barcelona, Nathan Williams perde o controlo da situação, agride o baterista, insulta o público e ponto final, concerto terminado… Reconhecendo a necessidade de resolver o que resolvido não estava, a alma dos Wavves começou por arrumar a sua vida. E, seguindo o que poderá ter sido uma lógica algo semelhante, acabaria pelos vistos por arrumar também um pouco mais a sua música… E assim, depois de dois álbuns na melhor tradição lo-fi, abordando a distorção e o ruído com a canção por cenário, eis que se apresenta em 2010 com algo completamente diferente. Juntando dois elementos da antiga banda de Jay Reatard – em concreto o baterista Bill Hayes e o baixista Stephen Pope – gravando num estúdio e contando com a ajuda de um produtor que já trabalhou com os Modest Mouse, apresenta em King Of The Beach um disco que descobre uma luz que outrora não brilhava deste modo na música de Wavves. Tonalidades solarengas - que não serão estranhas ao sublinhar da presença da palavra “praia” no título – escutam heranças de tradições californianas, ocasionalmente em discretos flirts com a memória surf rockdos sessentas, como por exemplo se escuta em Post Acid. Porém, tão determinantes quanto estas marcas de luz estival, entre ao azimutes centrais dos destinos da música em King Of The Beach moram ainda evidentes referências à cultura garage rock, em particular a formas que ganharam notoriedade em inícios dos noventas (então em climagrunge). E assim, num festim entre guitarras, boas canções e uma rara capacidade em sugerir vários destinos (e surpresa) num mesmo alinhamento, mora um daqueles discos que garantem prova de vitalidade às liguagens do rock’n’roll.




fonte: http://sound--vision.blogspot.com/

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Mad Men




úmero especialíssimo da Rolling Stone (data: 16 de Setembro), dedicado à televisão, com honras de capa para a mais requintada série televisiva do século XXI: Mad Men. Em pose retro, ma non troppo, fotografada por Robert Trachtenberg, surgem Elisabeth Moss, January Jones, Jon Hamm e Christina Hendricks; lá dentro, duas dezenas de notáveis imagens a preto e branco [exemplos aqui em baixo] assinadas por James Minchin III, documentando os bastidores da produção, em Los Angeles.


Entretanto, lembremos que a RTP2 vai voltar a emitir Mad Men: as duas primeiras temporadas serão repetidas nos dias úteis, a partir de 27 de Setembro (00h30); a terceira estreia a 29 de Outubro (22h40). A quarta temporada arrancou nos EUA no passado dia 25 de Julho.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Best Coast ... como prometido




Depois de uma sucessão de EPs que colocou o nome dos Best Coast no mapa das atenções dos últimos meses, a chegada de um álbum de estreia era aguardada com a natural expectativa de quem procurava a continuação de uma boa história. Crazy For You marca pontos logo num primeiro contacto com a capa (desde já candidata a figurar na lista das grandes capas de discos com sabor a Verão). Todavia, ao avançar pelo alinhamento o entusiasmo maior vai-se dissipando, o álbum oferendo afinal uma apenas competente sucessão de canções que, todavia, não parecem animadas de argumentos suficientes para convocar adjectivos como “memorável” (ou algo nas periferias). Como a capa sugere, as canções remetem-nos para um espaço solarengo, o por do sol abrindo contudo alas a um terreno em lusco-fusco onde a luminosidade do dia cede perante a chegada das dúvidas e nostalgias que vivem mais de noite… Não é contudo apenas pela falta de surpresa nas narrativas juvenis em regime mais-do-mesmo (histórias de amores, sonhos e afins) nem pelo cardápio de ingredientes convocado (que passa pelo garage rock dos noventas, o surf rock de sessentas e uma evidente admiração pela idade de outro dos girl groups) que Crazy For You não voa mais alto. Com raras excepções (como se escuta, por exemplo, quando os temperos de melancolia se acentuam em I Want You ou o surto de pop com tempero fuzz que esctamos em Each and Everyday), a sucessão de temas instala um clima que acaba por definir um caminho talvez demasiado estreito para um álbum que não parece ter ideias (nem canções) que o façam ser mais notado perante um vibrante panorama indie que assiste, todas as semanas, a uma intensa chuva de propostas nos mais variados comprimentos de onda.



Publicada por Nuno Galopim em Quarta-feira, Setembro 01, 2010