quarta-feira, 27 de julho de 2011

Apenas Miúdos


Apenas Miúdos está a ser uma delicia. Estou a adorar este 1º livro de férias. Um retrato de New York a partir de finais dos anos 60. Já li muitos livros do género, biografias, pensamentos, romançes, etc. Este livro percorre esses caminhos de uma forma tão natural como é respirar. Como ainda vou a meio não me posso pronunciar sobre o todo mas vou numa parte muito boa!


Quando Patti Smith solta “Jesus morreu pelos pecados de alguém mas não pelos meus”, a frase parece ter aquela quantidade mínima de blasfémia à qual boa parte dos artistas contemporâneos se candidata para se mostrarem emocionantes. A explicação é dada pela cantora na página 296 do seu “Just Kids”, vencedor do National Book Award e agora editado em Português pela Quetzal sob o título colado de “Apenas Miúdos”: “Cristo era um homem contra o qual valia a pena rebelarmo-nos, pois ele era a própria rebelião”. Apesar da provocação soar a tentativa de programa estético o que vamos encontrar no livro passa pouco por manifestos. É um relato inspirado de um encontro entre dois nomes importantes da cultura popular norte-americana recente. Patti Smith, rocker de poemas, e Robert Mapplethorpe, fotógrafo de vertigens carnais.


"Patti faz-nos chegar tão perto de Mapplethorpe que nunca mais veremos os seus retratos do mesmo modo (...)"


terça-feira, 26 de julho de 2011

Trailer da sexta temporada de "Dexter"



Eis o trailer da sexta temporada de Dexter:



Esta temporada centrar-se-á no tema da fé, à medida que Dexter tenta definir o que isso é, acabando por entrar em contacto com o seu lado (ainda) mais negro. Enquanto se apercebe que o seu filho está a entrar na fase infantil, sente-se incapaz de se considerar um guia para ele, acabando por procurar apoio na religião.

A sexta temporada estreia a 06 de Outubro no canal Showtime.


Ler mais: http://splitscreen-blog.blogspot.com/#ixzz1TF9zeoDO

sexta-feira, 22 de julho de 2011

MOTELx 2011: Destaques



Apesar de ir apenas sua quinta edição, o MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa é já uma referência na área rivalizando já com outros festivais do género com mais anos de existência. Para o MOTELx 2011 regressa-se ao Cinema São Jorge de 7 a 11 de Setembro.

Um dos pontos altos do festival é a atribuição do prémio para a Melhor Curta de Terror Portuguesa, dada a sua importância no panorama do género de terror a nível nacional, ainda bastante raro. Este prémio apenas passou a existir desde a terceira edição do festival das quais se sagraram vencedoras as curtas-metragens Sangue Frio, de Patrick Mendes e Bats in the Belfry, de João Alves.Papá Wrestling (2009) e Nocturna (2010) receberam menções honrosas. Para esta quinta edição do MOTELx haverão 12 concorrentes ao prémio, de entre 70 trabalhos que foram enviados.

Para esta edição, o festival terá como júri o actor, realizador e produtor Nicolau Breyner e ainda o realizador Frederico Serra (Coisa Ruim). A eles juntar-se-á um convidado internacional ainda por anunciar. Segundo palavras da organização, a programação deste ano pretende centrar-se «menos no passado e mais no presente e consequentemente no futuro» com a intenção de analisar o «estado actual do cinema de terror no mundo». Este ano o festival homenageia Eli Roth, conhecido actor e realizador. Da sua filmografia fazem parte Cabin Fever (2002) e Hostel (2005), entre outros. Também o japonês Shion Sono será alvo de uma retrospectiva, sendo conhecido como um dos novos autores do género.

A programação completa ainda não foi anunciada, mas efectuamos aqui já alguns destaques dos filmes a serem exibidos no MOTELx 2011:

Convidado de honra em 2009, John Landis apresenta agora o seu último filme na secção principal "Serviço de Quarto". Burke and Hare é uma comédia negra de terror sobre dois ladrões de sepulturas do século XIX que encontram uma oportunidade de negócio na venda de cadáveres a uma escola médica em Edimburgo. Simon Pegg e Andy Serkis interpretam as personagens principais que dão nome ao filme.

The Ward (2010), de John Carpenter

Nove anos depois de Ghosts of Mars, o icónico cineasta John Carpenter realizou The Ward que também estará integrado na secção principal do festival. Embora não seja de todo um dos melhores filmes do realizador, comporta toda a atmosfera tenebrosa e fantasmagórica a que já nos habituou. O filme centra-se numa jovem que é internada numa instituição mental com outras mulheres. É protagonizado por Amber Heard - uma das mais promissoras actrizes do género - à qual se juntam Mamie GummerDanielle PanabakerLaura-LeighLyndsy Fonseca e ainda Jared Harris.

Stake Land (2010), de Jim Mickle

Na história, os Estados Unidos tornaram-se vítimas de uma epidemia de vampirismo. Rapidamente as cidades transformaram-se em locais extremamente perigosos e os poucos sobreviventes vivem em regiões rurais. Quando a família do jovem Martin (Connor Paolo) é morta, este une o máximo de armas e companheiros possíveis e começa uma caçada implacável.

The Woman (2011), de Lucky McKee

O último filme de Lucky McKee, realizador de May (2002), escandalizou o Festival de Sundance 2011 e foi considerado «bizarro, louco e ofensivo», mas também «muito bem executado». Na história, um advogado de sucesso captura e tenta "civilizar" o último membro de um clã violento que tem varrido a costa nordeste dos Estados Unidos ao longo dos anos, mas ao fazê-lo está a colocar a sua vida em risco.

Mais conhecidos por The Butcher Brothers, os realizadores de The Hamiltons (2006) e April Fool's Day (2008), apresentam The Violent Kind, um filme sobre um grupo de motoqueiros que se reúnem para uma noite de sexo e bebida. Mas quando uma das mulheres é possuída por uma entidade estranha, tudo muda.

Mother's Day (2010), de Darren Lynn Bousman

O realizador de quatro filmes da saga Saw traz um remake de Mother's Day (1980), que conta a história de três amigas de faculdade que se encontram dez anos depois para um passeio numa floresta. Lá descobrem uma família que vive isolada, na qual os dois filhos fazem qualquer coisa para impressionar a mãe - incluindo violações e assassinatos. Neste remake, uma mulher com os dois filhos presos acaba por ser despejada da sua casa. Quando os seus filhos regressam, vão fazer de tudo para aterrorizar os novos moradores da casa. O filme conta com Rebecca De Mornay (Wedding Crashers), Deborah Ann Woll (True Blood), Shawn Ashmore (X-Men), Jaime King (Sin City), Patrick John Flueger (Brothers) e Warren Kole (A Love Song for Bobby Long).

The Shrine (2010), de Jon Knautz
No filme seguimos um grupo de jovens jornalistas que investigam um culto satânico que se diz praticar o sacrifício humano, mas a sua ambição poderá conduzi-los bem ao centro do perigo. The Shrine é o novo filme do realizador de Jack Brooks: Monster Slayer (2007).

Cartas de Amor de Uma Freira Portuguesa (1977), de Jesus Franco

Na secção "Quarto Perdido" que recupera clássicos do cinema de género português será exibido Cartas de Amor de Uma Freira Portuguesa, uma polémica adaptação das cartas da freira Mariana Alcoforado, de um convento de Beja, a um oficial francês. O filme foi realizado por "Jess" Franco, um dos cineastas mais iconoclastas no sub-género da série B e conta com um elenco internacional:Susan HemingwayWilliam BergerHerman JoséVictor de Sousa e Nicolau Breyner, entre outros.

O Barão (2010), de Edgar Pêra

Também na secção "Quarto Perdido" será exibido o mais recente filme de Edgar Pêra, que fez parte da selecção oficial do festival IndieLisboa 2011. Protagonizado pelo actor Nuno Melo, o filme baseia-se na novela homónima de Branquinho da Fonseca e no seu conto "O Involuntário", retratando a vida de um barão ditador, arrogante, controlador, misógino e cruel, numa visão semelhante à do Drácula.


Ler mais: http://splitscreen-blog.blogspot.com/#ixzz1SrxnnABJ

Soderbergh - Contagion


Numa altura em que podemos descobrir (finalmente!...) o extraordinário The Girlfriend Experience/Confissões de uma Namorada de Serviço (2009), de Steven Soderbergh, vale a pena referir que o seu trabalho continua a ser um invulgar ziguezague temático, artístico e industrial. Assim, o seu próximo filme, Contagion (estreia portuguesa: 13 de Outubro) volta a reunir um elenco de luxo para contar uma história que tem a ver com uma inquietante epidemia viral — cartaz e trailer são magníficos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Boro in the box




O Grande Prémio da 19ª edição do "Curtas" de Vila do Conde foi para uma produção francesa: Boro in the Box, filme de Bertrand Mandico que evoca, em tom surreal, o universo do cineasta polaco Walerian Borowczyk (1923-2006). Na competição portuguesa, o vencedor foi O Nosso Homem, de Pedro Costa — site oficial do "Curtas".

terça-feira, 19 de julho de 2011

Hugo


Assim como Roman Polanski um dia realizou Oliver Twist (2005), também Martin Scorsese se virou para os filmes de aventuras familiares e vai de realizar Hugo, uma adaptação cinematográfica de «The Invention of Hugo Cabret», escrito por Brian Selznick. Mas com um acréscimo: esta será a primeira incursão do cineasta, visto por muitos como um dos poucos cineastas clássicos da actualidade, no universo do 3D.



A história centra-se num menino órfão de 12 anos que vive por entre as paredes de uma movimentada estação de comboios parisiense, em 1930. A sua sobrevivência depende do anonimato, mas subitamente o seu mundo encaixa com o de uma rapariga amante de livros e o de um velho amargo, dono de uma loja de brinquedos. O filme conta com um elenco de luxo: Asa Butterfield (The Boy in the Striped Pajamas), Chloe Moretz (Kick-Ass), Christopher Lee (The Lord of the Rings), Emily Mortimer (Match Point), Helen McCrory (The Queen), Jude Law (Cold Mountain), Sacha Baron Cohen (Sweeney Todd), Ben Kingsley (Ghandi) e Ray Winstone (The Departed).

Inicialmente era para se chamar The Invention of Hugo Cabret, mas a Paramount Pictures acabou por decidir nomeá-lo apenas como Hugo. Com argumento adaptado de John Logan (The Aviator) que volta a trabalhar com Martin Scorsese, mas numa história mais ligeira, Hugo estreia a 23 de Novembro de 2011.


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domingo, 17 de julho de 2011

AS QUATRO VOLTAS




um filme de Michelangelo Frammartino
comGiuseppe Fuda
Nazareno Timpano
Bruno Timpano 




Um pastor idoso e doente aguarda o fim dos seus dias numa aldeia remota nas montanhas da Calábria, no Sul da Itália. Naquele lugar abandonado e congelado no tempo, a Natureza não conhece hierarquias. Cada ser, consciente do mundo exterior, tem uma alma que se move através de vidas sucessivas, em quatro voltas. Para o provar, a proximidade dos animais ou das árvores e as plantas dançando ao vento que, soprando, evoca a união entre todos. Segundo filme de Michelangelo Frammartino, nove anos depois de "Il Dono". 


Quinzena dos Realizadores - Cannes 2010
‹‹ Do homem à cabra, desta à árvore e desta ao carvão, como se de estafetas se tratasse, uma vida sucedendo-se à anterior como outra possibilidade, juntando, e são as "quatro voltas" do título, o humano, o animal, o vegetal e o mineral. Parece a fixação artificial de uma narrativa de reencarnação, e é verdade que o realizador se tem referido às tradições animistas da Calábria ou à passagem por ali de Pitágoras, filósofo e matemático grego, autor de teorias sobre a transmigração das almas. Tem-se referido mas tem-se distanciado serena e humildemente - como, aliás, Apichatpong Weerasethakul em relação a reencarnação.››


Vasco Câmara, Ípsilon 


Título original: Le Quattro Volte
Ano: 2010
Realização: Michelangelo Frammartino
Interpretação: Giuseppe Fuda, Nazareno Timpano , Bruno Timpano
Origem: Itália, Suíça, Alemanha
Duração: 88 min.
Classificação: M/12

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Destroyer, Kaputt







Destroyer
“Kaputt”
Merge
5 / 5
A voracidade com que muitas vezes consumimos hoje a novidade faz com que, por vezes, passemos a leste de momentos que não nos despertam a atenção imediata... Nada como, por vezes, deixar passar um tempo. Pelo que o momento do lançamento local de Kaputt pode ser o instante para regressar a um disco que, lançado em inícios do ano, vai ainda bem a tempo de acabar reconhecido como uma das pérolas maiores de 2011. Este é o mais recente disco de Destroyer, o projecto pessoal do canadiano Daniel Bejar (desde há alguns anos um elemento-chave no corpo dos New Pornographers). O disco eleva a um patamar de excelência a demanda de uma linguagem pessoal que, disco após disco, Bejar tem procurado talhar não apenas na composição como na escrita de palavras que sustentam olhares que ligam factos concretos do mundo a todo um quadro de reflexões. Em Kaputt Bejar dá-nos um conciso, mas intenso, ciclo de canções no qual cruza a elegância de uma pop que evoca o requinte das formas de uns Roxy Music de finais de 70 e inícios de 80 (entreManifesto e Flesh & Blood, portanto) e o discreto travo jazzy de uns Steely Dan. A composição entende contudo um sentido de espaço que transcende por vezes a lógica mais fechada da canção pop e, como podemos constatar em Suicide Demo For Kara walker ou no extenso Bay Of Pigs, junta à “narrativa” uma série de planos adicionais que somam uma dimensão de horizontes mais vastos. As ferramentas texturais mais características da música ambiental mostram então nesses instantes como as heranças mais remotas de um Brian Eno ou as mais recentes viagens prog de uns Air podem representar novos pontos de partida para instantes que libertam a canção rumo a novos sentidos. Electrónicas e todo um quadro de instrumentos, uma política de música pela música, uma voz que se sabe fazer escutar e uma belíssima colecções fazem assim de Kaputt um dos mais belos discos que 2011 nos deu a escutar. Quem disse que a pop não tem novidades para nos contar?



Publicada por Nuno Galopim em http://sound--vision.blogspot.com/

quarta-feira, 13 de julho de 2011

THE GIRLFRIEND EXPERIENCE: Namorada de aluguer



Confissões de uma namorada de Serviço, de Steven Soderbergh


O melhor filme de Soderbergh desde Sexo, Mentiras e Vídeo, todo realizado à base da experimentação e do improvis0

 Steven Soderbergh é um realizador com vincados traços de bipolaridade. Quem vir este filme dificilmente desconfia de que se trata do mesmo autor de Ocean's Eleven (2001), Tráfico (2000) ou Erin Brockovich (2000). Mas talvez se reconheçam algumas semelhanças com Sexo, Mentiras e Vídeo (1989) ou Bubble, filme de 2005, passado na América profunda que nem sequer teve estreia comercial no nosso país. Em suma, Soderbergh talvez seja o exemplo acabado que orçamentos maiores nem sempre significam filmes melhores, bem pelo contrário. As melhores obras do realizador são mesmo aquelas que tiveram custos mais baixos, como se vê em The Girlfriend Experience, traduzido em português para Confissões de uma namorada de Serviço, o seu melhor filme desde Sexo, Mentiras e Vídeo, todo realizado na base da experimentação e do improviso.
Para o papel principal, imagine-se, chamou Sasha Grey, uma 'estrela' do cinema pornográfico americano. Não é a primeira vez que um ator do género dá um súbito e provisório salto para outros cinemas: basta lembrar Coma Profundo, de David Cronenberg, Os Idiotas, de Gus Van Sant, ou, mais recentemente, Homem no Banho, de Cristoph Honoré, que recrutou um ator hardcore gay. A verdadeira originalidade de Soderbergh neste domínio é a total ausência de pornografia. Ou seja, por estranho que possa parecer, achou que a profundidade e experiência da atriz poderiam enriquecer interiormente a personagem. Ou, mais do que isso, achou fascinante desconstruí-la, de fora para dentro.
Chelsea não é propriamente uma prostituta de alta roda, nem sequer uma acompanhante de luxo, o seu ofício é bastante mais subtil e refinado. É mais uma namorada de aluguer, com a qual os clientes yuppies podem conversar, jantar e, claro, levar para a cama. Há um snobismo fashion, uma mania das marcas, uma elegância elitista, mas não há as mais que batidas fantasias sexuais. Aliás, o sexo, por absurdo que possa parecer, está sobretudo implícito. Outro cliché derrotado é que os clientes não são velhos, nem obesos, nem têm ar repugnante, antes pelo contrário, com um estilo jovem e yuppie, dos quais, eventualmente, não se esperaria que recorressem a tais serviços. Mas, como se disse, é sobretudo um serviço de companhia, como as damas de companhia que outrora entretiam gerontes endinheirados. Mas o que isto revela, acima de tudo, é uma imensa solidão numa classe alta, que cria à sua volta um mundo de tal forma cru, que até o carinho se paga.
Ela é quem eles querem que ela seja e o filme é sobre quem ela é. Um make-up desfeito, um creme desmaquilhador, por baixo da máscara está outra máscara, nunca chegaremos à pele, mas vale a pena tentar. O próprio filme está realizado à flor da pele, sem maquilhagem, com uma rudeza de meios indie, e uma câmara solta, de enquadramentos invulgares, um argumento livre, que foge a lugares comuns. Todo o filme respira essa liberdade estética, que lembra Hal Hartley, Jim Jarmush, Robert Altman, Jonathan Demme ou, porque não, Jean-Luc Godard.
O espaço para o improviso foi mesmo a técnica seguida. O improviso da câmara e dos atores. E é por isso que o filme respira desta forma e sai de todos os padrões a que Soderbergh nos habituou, mesmo nos projetos mais alternativos. Contudo, no meio desta trama minimalista, feita de flashes, com extraordinários momentos musicais, há também uma parábola económica. Porque se há mundo sem moral é o da economia. E no final percebe-se que, para certas pessoas, um abraço é uma excentricidade milionária.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Matar para Viver: ASSASSINO NATO

O segundo retorno de fim de carreira do realizador septuagenário Jerzy Skolomowski: uma lenda, plena de som e de fúria, sem nenhum significado, em queda livre até à pré-civilização

Ana Margarida de Carvalho
16:15 Quarta feira, 22 de Jun de 2011 
É a jornada angustiante e (des)norteada de um homem encurralado - primeiro na paisagem lunar do Afeganistão com seus ardentes desertos e inquietas ravinas, depois na paisagem igualmente lunar, na florestas refrigeradas do norte, talvez na Polónia ou na Noruega, tanto faz. E também quase tanto faz tratar-se de um homem. Neste caso um Talibã, capturado pelos militares americanos, ensurdecido por um disparo de helicóptero, torturado e deslocalizado para estas paragens do primeiro mundo, onde a fuga e os assassinatos em série acontecem porque simplesmente se proporcionam. Diz-se um homem, podia tratar-se de uma daquelas raposas desorientadas, perseguidas pela algazarra da matilha de Beagles e estranhos seres de casaca encarnada montados noutros animais galopantes. Ou aquelas que preferem roer a própria pata para escaparem da armadilha. Este foge, porque sim. E mata, porque sim, também. Porque tem de ser, a sobrevivência é mesmo assim crua, silenciosa, brutal, selvagem, obstinada. E essencial, como diz a versão original do título, Essential Killing.

Este segundo regresso (Matar para Viver estreia-se quinta, dia 23) do veterano polaco, Jerzy Skolimowski, realizador e artista, depois de décadas de afastamento das câmaras -

o último filme foi o gélido, azulado e também cheio de instintos básicos 4 Noites com Anna (2008)-, pode parecer um thriller de perseguição, em que a presa se torna caçador. Aliás, é curioso o exercício de imaginar este filme feito segundo os cânones de Hollywood. Nas mãos de Skolimowski ele torna-se um thriller existencial, minimalista, em que o barbudo afegão (só sabemos que ele se chama Mohammed pelos créditos finais), não pronuncia uma única palavra ao longo do filme. Limita-se arfar, a gemer, a urrar, a tremer de medo e de frio, a matar a fome e as pessoas também a frio, a alucinar também no frio - pelos vistos também podem acontecer miragens em desertos gelados. É uma interpretação gutural, de uma fisicalidade absoluta, e que garantiu a Vicent Gallo o prémio de melhor ator no Festival de Veneza - aliás, o próprio filme saiu premiado. 

Disponível para matar

Através de panorâmicas gerais, travellings aéreos, a exibir a pequenez deste animal ferido que vai deixando rasto na paisagem - a neve é um denunciante implacável para um fugitivo ensanguentado -, ou de planos subjectivos, com um design sonoro absolutamente notável e torturante (ou a estridência da banda sonora, ou as pás dos helicópteros, ou as grilhetas nos pés dos prisioneiros, ou os latidos dos cães, ou o grasnar dos corvos, ou o sopro inclemente do vento ou a música infernal de um auto-rádio...), o filme é apenas o retrato implacável de um homem e das suas circunstâncias. Fazer-lhe uma leitura politizada, aprofundar a controvérsia da guerra (daquela em particular e de todas), da cobertura que os países europeus deram aos americanos e aos seus métodos de tortura medicamente assistida está tão implícita que só empalideceria a história. Reduzido ao um estado primitivo, sem rumo nem direcção, está um homem em estado de pré-civilização, que corre sem GPS, não sabe para onde, apenas sabe que tem de correr e matar o que for preciso, de comer o que for preciso, casca de árvore, peixe cru, bagas... Amamenta-se de uma mulher como no livro de Steinbeck, As vinhas da Îra (aqui sem ternura nenhuma), também porque tem que ser. E prossegue a corrida visceral naquelas paisagens alienígenas para onde o levaram, a milhares de quilómetros de casa, tão desesperado como um King Kong em Manhattan. Sem planos, sem destino, ele apenas foge, acossado. Matas ou és morto: a absurda lei da vida.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Moda e ficção


Corpos expostos. Corpos ocultos na sua exposição. Pele e calor. Frio e metal.Uma pista no FashionProduction. Outras no site oficial.O espanhol Jesús Alonso pratica a fotografia de moda como quem abre os espaços de um novo capítulo de ficção científica. Moderno e estranhamente primitivo

domingo, 10 de julho de 2011

Washed Out – Within and Without (2011)




by Mike Mineo

Like many groups propelled by a string of excellent EPs to open their careers, Ernest Greene experienced a boatload of hype leading up to his debut full-length. Under the alias of Washed Out, he has been at the forefront of the chillwave movement since 2009. However, unlike the fervent presence of many other stylistic contemporaries, Greene remained fairly low-key. Never a frequent interviewee or live performer, he has become entrenched in an enigma that is reflective of his music; its presence is initially subtle and low-key, but later unveils itself as something intricate, unique, and worthy of attention. As of late, signing to Sub Pop and appearing at a number of festivals has somewhat relinquished his mysterious enigma, but Greene’s full-length debut Within and Withoutshows no signs of conforming to a recent trend – even if the movement he specializes in is considered just that by many people.

As impressive as Greene’s early string of releases was, they didn’t exactly present themselves as the epitome of consistent stylistic direction. Some tracks, like the highly memorable “Belong”, recalled shimmering key-led elements of Afro-pop and Adult-Contemporary lite-pop, while others like “Get Up” were more adventurous practices in sampling. His voice was rarely the dominant factor, often placed masterfully under the rich electronic mix similarly to Noah Lennox. Greene’s compositional skills and production tendencies – from the odes to recent stylistic revivals to clinics in choppy sampling – were certainly unique; it often resulted in some of the most caressing and intricately layered sounds you are bound to hear from any artist within the “chillwave” classification. Such feats make it easy to recognize why Within and Without was so anticipated.

Without getting overly complicated, Within and Without is a continuation of aspects touched upon throughout Greene’s early EPs, but with a steadily rising emphasis on infusions of trip-hop – hence more use of percussion that isn’t nearly as stiff or automated as the loops present in his early material. Sampling is also severely minimized, with the exception of small snippets like the female vocal clip in “Before” which adds a Jet Set Radio/blurring neon lights in Tokyo sort of feel. Cibo Matto on (more) drugs, perhaps. Unlike before, the sampling is rarely an essential factor in the songs, making Within and Without the clearest example of Greene’s songwriting to date. That’s not to say it’s a no-frills release though; the production reaches several moments of utter grandiosity, like the stirring strings throughout “Far Away”, the devastating synth build-up in “You and I”, and the twinkling anthem-like appeal of the highly accessible “Far Away”. They are simply accomplished with more naturally instinctive pop smarts.

Within and Without... out 7/12

“Echoes” is led by a bass line with plenty of swagger and appeal, approaching hip-hop schematics in its structural repetition but also dance in its actual simplified melody. This bass hybrid is better perfected on “Before”, a gorgeously crafted gem with chirping and arp-led samples that best define Greene’s recent fascination with trip-hop. With this track, he Perry, Georgia native has crafted one of his best. The beginning touts brass-like synths with the exuberance of a dance party, until the slowly ascending bass line coincides with his soft-spoken voice. The low-key elements eventually pick themselves up during the chorus, enhanced by only a slight key twinkle over the same bass line. Moments like these, regardless of how subtly incorporated they are, provide enormous hooks that rank tracks like “Before”, “Far Away”, and “Amor Fati” among Greene’s best.

While the mid-section of the album boasts a wide array of infectious appeal, the first two tracks – “Eyes Be Closed” and “Echoes” – tend to focus more on atmospheric introductions. It wouldn’t be unnecessary to compare the fragile bursts on “Eyes Be Closed” to resemble the New Age sounds of Enigma and ERA. This style presents plenty of easy-listening and atmospheric preparation, but its idleness begins to poke at the listener by mid-point. Even as the fade-out and fade-in occurs after the three-minute mark to introduce an explosive verse of sorts, the effect is not nearly as effective as when done toward the end of “You and I”, an effort more indicative of Greene’s multiple stylistic strengths – particularly the infusion of Afro-pop into areas of dubstep, lo-fi rock, and synth-pop. Both these tracks rely on a sweeping of tribal drums to bring back a suppressed verse, but only one – “You and I” – does so with enough vigor to create a memorable aura. “Echoes”, while bursting with more energy than “Eyes Be Closed”, is just as overly lengthy; it tends to rely on amateur additions like sudden arp inclusions and hypnotic key repetitions, which sound exotic and initially alluring, but tends to abandon Greene’s wildly impressive pop instincts. These are instincts which come out fully on the majority for the album, so the first two tracks are somewhat puzzling in both their sequencing and overall production.

One of the album’s biggest strengths, the illustriously lush “Soft”, sounds like what “Eyes Be Closed” attempted to achieve. The production is boasted by heavy reverb almost reminiscent of shoegaze, but with the caressing elements of chillwave – like chirpy keys and the sound of disco-pop entrenched in lovable ‘80s stereotypes – it is hardly a departure from what Greene does best. The track is not an in-your-face explosion of varying layers, but its memory will leave an imprint on any listener because of its frail beauty and beautifully naturalized structure. It is easily one of Greene’s best, and finds a perfect place on the album between energetic pop hybrids like “Amor Fati” and “Far Away”. Despite one or two missteps, Within and Without is a very strong album led by efforts like these. The mid-section of the album is relatively flawless. For fans of Washed Out it is hard to imagine being unsatisfied. After a few short releases that left listeners wanting more, Within and Without should satiate them to the fullest extent with fully-packed gems like “Soft”, “You and I”, and “Before”.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Cass McCombs, Wit's End


Cass McCombs
"Wit’s End"
Domino Records
4 / 5
Esperou anos e correu pelas estradas e ruas de cidades norte-americanas até ver o seu nome na capa de um primeiro disco. Não deixou de caminhar e procurar um lugar seu desde então, quer no espaço quer na música. Acabou por reencontrar os caminhos que o levaram de regresso à Califórnia e, disco após disco, uma voz que agora, ao quinto álbum, tem já a solidez de quem há muito deixou de procurar o abc de como se constrói uma personalidade para, através dela, definir agora todo um quadro de retratos e reflexões. Wit’s End é o quinto álbum de Cass McCombs e, talvez, o seu maior feito. A voz e a guitarra acústica partilham o protagonismo que estrutura as canções, mas à sua volta crescem discretos arranjos que, sem nunca ofuscar o diálogo central para palavras e cordas dedilhadas, acabam por conferir uma noção de corpo às canções. São trovas feitas de melancolia e solidão onde Cass McCombs procura trabalhar a escrita sem nunca perder em conta que, na verdade, é a canção que mora no destino do seu esforço criativo. Wit’s End, um pouco como os anteriores discos do músico, não parece destinado a ser daqueles álbuns que colhem entusiasmos transversais para de si fazer os “casos” de cada ano que passa. Mas, mais que nunca, consegue aqui reunir uma espantosa colecção de canções. Que não precisam de querer ser mais do que aquilo que são para justificar um encontro com um belo disco herdeiro de várias heranças da folk (e arredores).