terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sundance. Os heróis indie para o cinema de 2012



“Beasts of the Southern Wild”


O título distinguido com o prémio mais desejado, “Beasts of The Southern Wild”, segue as desventuras de Hushpuppy, uma rapariga que vive com o pai, doente terminal, numa pequena comunidade do Delta do Mississippi. O realizador, Benh Zeitlin, de 29 anos, estreou-se nas longas-metragens com esta produção de três anos, co-escrita pelo próprio e apoiada pelo Sundance Institute (a organização criada por Robert Redford em 1981 para apoiar realizadores e argumentistas em início de percurso). Ao receber o prémio, Zeitlin destacou a prestação de Quvenzhane Wallis, a protagonista de oito anos, que disse estar pronta para ser uma estrela, mas não antes de acabar a terceira classe. Os direitos de distribuição do filme – que também venceu o prémio de Melhor Fotografia – já foram comprados pela Fox Searchlight.

"The House I Live In”


Eugene Jarecki já tinha recebido este prémio em 2005, quando levou a Sundance “Why We Fight”, sobre a relação entre a diplomacia americana e a sua supremacia militar. Desta vez, o tema abordado foi a despesa humana e financeira da luta contra a droga. O irmão do também realizador Andrew Jarecki criticou, na cerimónia de encerramento, as políticas sociais norte-americanas: “Se procuramos mudanças neste país, deixar pessoas na prisão por crimes não violentos, em muitos casos prisão perpétua, sem liberdade condicional, com penas superiores às que são dadas a assassinos, tudo isso tem de acabar.” “The House I Live In” – um dos vários documentários que em Sundance se debruçou sobre os dilemas da América actual – procura também criticar o sistema judicial americano, o funcionamento das prisões e o impacto de ambos junto das minorias.

“Violeta Se Fue a Los Cielos”


Violeta Parra (1917-1967) é um dos nomes maiores da música tradicional chilena, sobretudo daquela que ficou para a História como contributo para o movimento “La Nueva Canción”, gerado um pouco por toda a América Latina e que acabou também por influenciar a Península Ibérica (dos anos 60 à década de 80). O filme de Andrés Wood procura contar a história da cantora, destacando a sua intervenção social e política mas sem nunca se deixar prender por uma linearidade biográfica. Da música às artes visuais, a criatividade de Parra – tal como a sua dimensão mais íntima – é reinterpretada pela actriz Francisca Gavilán, nesta co-produção que juntou Brasil, Argentina e Espanha ao Chile. Este último contou com mais um filme distinguido, “Young & Wild”, que conquistou o prémio de Melhor Argumento (Cinema Mundial).

"The Law In These Parts”


Ra’anan Alexandrowicz não deixou dúvidas ao afirmar “nunca um filme tinha sido tão difícil de fazer durante toda a minha carreira”. Anos de pesquisa cuidadosa resultaram numa observação profunda sobre a estrutura legal e judicial de Israel em relação aos palestinianos e de que forma foi influenciada por eventos decisivos como a Guerra dos Seis Dias e, nos dias de hoje, pelas dificuldades diplomáticas registadas na região. “Este é um momento incrível para mim como realizador, mas trata-se de um filme sobre um assunto doloroso e que ainda está por resolver”, reconheceu Alexandrowicz. “O que se descobre com este filme, e com outros deste festival, é que a lei nem sempre leva à justiça. Pode mesmo ser utilizada como uma ferramenta contra certos segmentos da sociedade. Temos de nos opor a esta situação e, se necessário, anulá-la.”

“The Surrogate”


Foi classificado como o mais comercial e mediático dos filmes a concurso. A explicá-lo está o elenco, que junta William H. Macy, John Hawkes e Helen Hunt (o elenco foi distinguido com um prémio especial do júri). Realizado por Ben Lewin, “The Surrogate” conta a história de Mark O’Brien, um homem com um pulmão de aço que decide perder a virgindade aos 36 anos, contratando para o efeito uma especialista na matéria. Ainda que o argumento, assinado por Lewin, seja baseado numa história verdadeira, o realizador confessou não acreditar “que a maioria das pessoas tenho visto alguma vez uma história como esta”. “É tudo muito novo e inesperado. Pela experiência que tive de ver o filme junto do público, parece resultar como uma verdadeira viagem emocional”, disse. O filme – o mais caro no festival – foi comprado também pela Fox, por 4,5 milhões de euros.

“The Invisible War”


O resultado de uma investigação sobre os casos de violação nas forças armadas dos EUA, e as instituições que procuram ocultar informações sobre os crimes e os impactos pessoais e sociais de tais acontecimentos. As primeiras críticas falam de uma produção que procura trazer a público uma discussão que tem sido minimizada pelas autoridades militares americanas. Segundo o “Hollyood Reporter”, o filme não preteatingir a imagem das forças armadas – não existe a intenção de estabelecer uma relação entre os casos de violação citados e as operações no Iraque ou no Afeganistão, mas abordar o drama das violações. The Invisible War foi realizado por Kirby Dick, que esteve em Sundance pela sexta vez. Fê-lo primeiro em 1997, quando apresentou “Sick: The Life & Death of Bob Flanagan, Supermasochist”. 

"Valley of Saints"


Um enredo que parte da complexa situação política e militar da região de Caxemira para se focar na descoberta de uma relação improvável entre apaixonados de mundos opostos. Um jovem da classe operária que deixa a sua cidade natal e que conhece uma cientista que faz estudos numa reserva natural em Dal Lake. Tudo porque o caminho inicialmente traçado foi interrompido por um recolher obrigatório imposto pelas autoridades militares. O filme foi também elogiado pela forma como está representado o encontro do esplendor visual da região – e as suas tradições culturais – com o argumento. “Valley of Saints”, realizado por Musa Syeed, tinha já sido distinguido no início da semana passada, quando a Fundação Alfred P. Sloan o premiou com dez mil dólares, pela forma como o filme retrata os cientistas. 

“Searching For Sugar Man”


Rodriguez esteve quase lá, quando em 1970 se aproximou da posição de estrela rock. Nesse ano o músico de Detroit editou “Cold Fact”, rock’n’roll infectado de psicadelismo, gravado em conjunto com elementos dos Funk Brothers (banda residente da Motown) e que produziu o sucesso “Sugar Man”. Mas ao segundo álbum, gravado em Londres, Rodriguez, afectado pela fraca divulgação da sua música e pelos problemas financeiros da editora, desapareceu. É com a edição tardia do disco na África do Sul que dois fãs resolvem partir em busca do paradeiro do artista, com muito pouca informação como ponto de partida. A demanda foi acompanhada pelo realizador Malik Bendjelloul: “Isto está mesmo a acontecer?”, perguntou ao receber o prémio. “Searching For Sugar Man” foi também distinguido com um Prémio Especial do Júri.

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