Dupla norte-americana encheu esta noite a sala lisboeta com o seu rock incendiário. E não ficou um único "Lonely Boy" para contar a história.
Os Black Keys fizeram história esta noite em Lisboa. Frente a um Pavilhão Atlântico bem mais cheio que aquilo que, confessamos, chegámos a temer, Dan Auerbach e Patrick Carney estrearam-se em grande em solo nacional, com um concerto generoso em riffs de guitarra bojudos e bateria com pelo na venta oferecidos a um público sempre ávido de rock - e foi quase tão incendiário quanto Jack White no Coliseu. Mais, Auerbach deu ainda à audiência lisboeta outra coisa que ela muito preza: conversa e alguma bajulação. A descontração do vocalista aliada a grande interação e regada por muitos agradecimentos (não que o público não merecesse ver os seus esforços - palmas, gritos, coros gigantescos, danças desgovernadas, air guitar... Vimos de tudo - reconhecidos) levou os fãs à histeria.
O início do concerto dos Black Keys chegou a auspiciar o pior: o microfone de Auerbach esteve desligado durante todo o primeiro tema. E "Howlin' For You" não é um tema qualquer, portanto os gritos de excitação, sempre que o vocalista se aproximava da frente de palco, misturavam-se com os assobios de revolta. Nada que a banda de Akron, Ohio, não conseguisse depois compensar com um alinhamento fortemente baseado emEl Camino , disco editado no final do ano passado que ajudou a fazer crescer ainda mais um culto que explodiu com Brothers , de 2010, também em destaque no espetáculo desta noite. A dupla, obviamente destacada na parte da frente do palco, fez-se acompanhar por mais dois músicos, para seguir viagem com um "Next Girl" que finalmente trouxe a voz de Auerbach à vida e um "Run Right Back" que, com a sua bateria corridinha, se tornou um dos temas ganhadores logo no início.
"Let's keep on moving" foi uma das frases que mais se ouviu sair da boca do vocalista, como que a incentivar o público a não se deixar levar pelo cansaço e a acompanhá-los num espetáculo que ganha pela forma acelerada como avança por entre a violência das guitarras de "Same Old Thing", do já "antigo" Attack & Release , um sexy "Dead and Gone" ou um incendiário "Gold on the Ceiling", que levaram o público ao delírio. "Vamos tocar algumas canções só nós os dois agora", diz às tantas Dan Auerbach, recuando ao lado do companheiro de sempre até aos primeiros álbuns com "Thickfreakness", o para-arranca de "Girl Is On My Mind" e o enérgico "Your Touch".
O regresso dos restantes companheiros de estrada faz-se ao som da balada "Little Black Submarines" - de guitarra acústica a tiracolo, Auerbach puxa pelos isqueiros e os telemóveis de um público que o acompanha em coro do início ao fimra. A aspereza de "Strange Times", a fugidia "Nova Baby" e o dramático "Ten Cent Pistol" ajudam a preparar o Pavilhão Atlântico para uma sequência final arrebatadora: "She's Long Gone" pega com o assobio gigante e o riff poderoso de "Tighten Up" e já ninguém aguenta sem abanar o esqueleto quando chega "Lonely Boy", cantada em uníssono até a banda abandonar o palco em apoteose - não sem antes vermos finalmente um "crowd surfer" a ser recebido em braços pelos seguranças no fosso".
O único e curto encore foi bem representativo da energia que os Black Keys destilam em palco. Depois de as luzes se apagarem e da gritaria que serviu de banda-sonora aos momentos em que a dupla se fez esperar, Auerbach e Carney regressaram acompanhados de duas gigantescas bolas de espelhos que pintalgaram o Pavilhão Atlântico de cor. O início do fim faz-se com "Everlasting Light" e o seu falsete sedutor e, logo depois - introduzido pelos agradecimentos finais: "vamos, sem dúvida alguma, voltar. Obrigado por terem vindo" -, atacam furiosamente "I Got Mine", até uma explosão final acompanhada pelo nome da banda a descer do alto, escrita em luzes. Aos Black Keys coube este ano a honra de encerrar os grandes concertos internacionais e souberam fazê-lo com chave de ouro.
A primeira parte coube aos regressados Maccabees, que se tinham apresentado em julho no palco secundário do Optimus Alive'12. Com uma pontualidade britânica, a banda liderada por Orlando Weeks defendeu, em aproximadamente 45 minutos, o álbum que os levou a serem um dos finalistas do conceituado Mercury Prize. De Given to the Wild , o terceiro disco de originais, a banda londrina retirou a grande maioria dos temas apresentados, mostrando como o seu rock polido soa tão bem quando abusa do reverb ("Child") como quando pisa forte na bateria ("Wall of Arms") ou aposta numa progressão explosiva ("Pelican" mereceu todas as palmas que teve).
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