quarta-feira, 25 de maio de 2011

The National em Lisboa

he National
The National no Campo Pequeno, Lisboa [texto + fotogaleria] -


Verdadeiro fenómeno de culto entre os portugueses, os National assinaram esta noite um concerto vibrante e brindaram os fãs lisboetas com algumas surpresas.


Correndo o risco de oferecer o corpo às balas, sinceramente os National nunca fizeram disparar o nosso sinal de alarme. Foi com isto na consciência que partimos hoje de espírito livre para o concerto da banda norte-americana num Campo Pequeno perto de lotado.

O rótulo de banda de culto está-lhes bem colado à pele e a verdade é que até simpatizamos com a atitude desprendida e cool de Matt Berninger (é a sua voz pálida e pouco elástica que nos deixa infelizes por não conseguirmos gostar mais dele) e com as roupagens luxuosas de canções tão bonitas quanto "Fake Empire", "Conversation 16" ou "Bloodbuzz Ohio"... Será que 1h45 de concerto nos fariam passar para o lado dos convertidos? Não sabíamos e ainda não sabemos, apesar de termos baixado algumas resistências ao longo do espetáculo.

Baseado largamente no mais recente High Violet e no antecessor Boxer , o concerto dos National em Lisboa passou também por alguns momentos mais memoráveis dos primeiros discos, com "Friend of Mine", de Alligator , a merecer aqui uma menção especial. Além de só ter sido apresentado em palco por duas vezes, já não era tocado pela banda há sete anos: "O que quer que façam, não saiam depois desta canção. Esta é para vocês Portugal. Cuidado com o que desejam", avisaram antes de partir para o tema que abriria o primeiro encore.

Uma hora antes, o início da atuação seria colorido a tons violeta, como convém, para um "Start a War" recebido sob chuva de aplausos. A voz de Berninger soltava-se desbragada e o cantor jogou o seu charme natural, algures entre um Stuart Staples menos aveludado e um Ian Curtis mais equilibrado, enquanto cantava sobre desafiar alguém a ir-se embora. Parece ameaça, mas nós não levámos a sério.

A viagem seguiria depois por "Anyone's Ghost" e "Secret Meeting", que mantêm o registo de lamuriosos desencontros amorosos e é por aqui que vamos pensando com os nossos botões: "ok, excelentes músicos, mas já passámos esta fase". E então entra, com uma certa urgência, "Bloodbuzz Ohio" e recuperamos o ânimo enquanto Matt Berninger se perde em palco na sua imagem de artista autocomiserado.

"Slow Show", recuperado a Boxer , mantém o público em alta e torna-se facilmente um dos momentos mais empolgantes da primeira parte do concerto. Segue-se, sem parar e com bateria cavalgante, por "Squalor Victoria" adentro, com o vocalista a caminhar na corda bamba da histeria. E eis que nos afasta novamente, com a berraria e com um "Afraid of Everyone" que, francamente, nos entedia.

Elogiada a sala de espetáculos lisboeta e verbalizada a felicidade por estarem de volta a Portugal e a Lisboa, os National prosseguem depois por uma "super angry" "Abel", arrancada a ferros a Alligator . "Sorrow" leva-nos de volta a território conhecido e cobre o palco de nuvens negras. Só voltamos a focar-nos no palco com a sedutora "Conversation 16", tão boa em palco - ou melhor - que em disco.

"Lucky You" regressa - em registo intimista - a 2003, "Esta é mesmo velha" avisam, e "England" mantém uma acalmia agradável com a ajuda de teclados serpenteantes. A magia de "Fake Empire" é, então, reconhecida aos primeiros acordes e o coro avoluma-se para rebentar na maior ovação da noite. E nós vamos com ela. Primeira saída de palco.

Continuamos a bordo com "Friend of Mine", mais a partilhar do entusiasmo genuíno da plateia que outra coisa qualquer, e "Mr. November" transporta-nos de volta a recordações dos Joy Division. "Terrible Love" encerraria o primeiro encore com Berninger a ser engolido pela multidão, cantando a plenos pulmões.

De volta ao palco com o mesmo copo (ou seria outro?) na mão, o intimismo de "About Today" serviria de aperitivo ao derradeiro momento arrepiante da noite (e não é que com esta arriscam-se mesmo a conquistar um novo fã!?): enternecedora q.b., "Vanderlyle Crybaby Geeks" é tocada e cantada sem amplificação e com ajuda, de peso, do Campo Pequeno. "Ajudem-nos a cantar. Sabemos que são bons a cantar, por isso cantem muito", desafiam. E nós cantaríamos, com certeza, se soubéssemos a letra.

A primeira parte do concerto ficou a cargo de uns (mais que) convincentes Dark Dark Dark. O coletivo de Minneapolis, brilhantemente liderado pela voz límpida de Nona Marie Invie, contou as suas histórias de acordeão e clarinete em riste num ambiente que era o do Campo Pequeno mas que poderia muito bem ser o de um clube de jazz decadente, sedutor com o seu fumo de cigarro. "É a nossa primeira vez em Lisboa e é praticamente um sonho tornado realidade tocar com os National. Adoramos Portugal", diria a cantora antes de se despedir com o docinho "Daydreaming" de um público que, a avaliar pela receção, não terá problemas em vir a adorá-los também.

Depois desta noite quente, muito quente, saímos da sala lisboeta a perceber um pouco melhor a dimensão do fenómeno National. Ainda assim, continuamos a entendê-lo tão pouco quanto os fãs entenderão este texto. Não os censuramos.

Alinhamento
Start a War
Anyone's Ghost
Secret Meeting
Bloodbuzz Ohio
Slow Show
Squalor Victoria
Afraid Of Everyone
Little Faith
Abel
All The Wine
Sorrow
Apartment Story
Conversation 16
Lucky You
England
Fake Empire

Friend of Mine
Mr. November
Terrible Love

About Today
Vanderlyle Crybaby Geeks

Texto de: Mário Rui Vieira
Fotos de: Rita Carmo/Espanta Espíritos

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