terça-feira, 5 de abril de 2011

A 66 classicamente





Um retrato pessoal da mítica Estrada 66 num disco que junta uma série de obras do compositor norte-americano Michael Daugherty em gravações pela Bournemouth Symphony Orchestra, dirigida por Marin Alsop.


Basta olhar de relance para uma enumeração dos títulos das obras de Michael Daughery (n. 1954) para sentir que há em si uma relação intensa com grandes ícones da cultura pop norte-americana. Entre uma ópera que toma Jackie Kennedy como protagonista ou uma peça orquestral centrada na figura do Super Homem, a obra de Michael Dugherty reflecte assim sobre uma marcas que caracterizam vivências da América do nosso tempo. E é outro dos grandes ícones pop americanos aquele que desta vez chega a disco, através de uma pequena peça para orquestra estreada em 1998 que ilustra o que poderíamos ver como um retrato impressionista da Estrada 66, que cruza a os EUA, como o próprio o diz no texto descritivo que acompanha o disco, “vista do retrovisor”. O disco que a Naxos agora edita, em mais uma manifestação de seguro interesse de Marin Alsop na representação dos nomes centrais da música americana do nosso tempo, toma a América como cenário no centro das atenções, aRoute 66 juntando depois os contrastes entre desolação e deslumbramentos que habitam em Ghost Ranch (2006) ou o percurso, ao longo de um dia, através de uma das mais míticas artérias rodoviárias de Los Angeles em Sunset Strip (1999), pelo qual se cruzam os ecos das vivências, dos lugares e das gentes que por ali passam. A fechar o alinhamento o disco inclui ainda Time Machine, obra criada para três maestros, a Marin Alsop juntando-se aqui Mei-Ann Chen e Laura Jackson. A peça transporta-nos numa viagem mas, como o compositor levanta, toldada por uma dúvida, sem resposta, que lembra que um futuro, como o que recordamos nas palavras do romance de H.G. Wells, pode estar longe de responder aos ideais dos mais optimistas.


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