sábado, 24 de outubro de 2009

Alice in Chains ~ Black Gives Way to Blue



Os Alice in Chains sempre foram muito mais uma banda para músicos e para legiões fiéis de fãs do que uma banda para críticos.
Aquilo que parecia a fortuna de estar no local certo e no momento certo, falamos da explosão do grunge em Seattle de que os Alice in Chains foram parte activa, tornou-se num chavão redutor para o grupo, como se a banda de Jerry Cantrell se tivesse limitado a apanhar apenas os efeitos da vizinhança com bandas gigantes como os Nirvana e os Pearl Jam.
Mas ultrapassados o temporal grunger e algumas ilusões dos hypes da época, sobem à tona dados mais lúcidos. E um deles é o facto da influência dos Alice in Chains no rock actual prosperar como bem maior do que aquela que julgamos. Ela estende-se do indie rock musculoso dos Queens of the Stone Age de Josh Homme ao western-folk dos Woven Hand de David Eugene Edwards. Os Alice in Chains estão bem presentes no imaginário musical de hoje, seja nas memórias sobre os próprios, seja nas canções de outros.
Se pensarmos bem, as valias dos Alice in Chains eram consideráveis. O falecido Layne Staley era uma espécie de Álvaro Cunhal do rock & roll. Tinha à sua volta uma aura austera e um charme enigmático, nunca se sabia muito bem onde estava e raramente era visto. Além deste dom de raposa, Layne Staley tornou-se em mais um mártir do grunge, transformando o fatalismo da sua música na sua própria vida. Staley era mesmo real.
Depois, havia aquele tecido empoeirado e escuro, oriundo de uma cave ou de um sótão, que era o som que Jerry Cantrell sempre comandou nos Alice in Chains.
Vários anos após a morte de Layne Staley por overdose de drogas, os Alice in Chains regressam agora aos álbuns de originais. A obra recente, "Black Gives Way to Blue", tem um título esperançoso. Mas em rigor, este é o disco mais pesado do grupo e o mais próximo das referências heavy metal do guitarrista e líder Jerry Cantrell.
A instalação sonora do grupo está lá e é reconhecível. Mas as guitarras estão ainda mais inclinadas para as notas graves. A densidade dos power chords é maior. E o mistério atmosférico que rodeia os Alice in Chains está ainda mais soturno, sobretudo nas canções mais acústicas (como 'Your Decision' ou 'When the Sun Rose Again', olá David Eugene Edwards!?).
Quanto à substituição do vocalista, ela é cirúrgica: os Alice in Chains conseguiram desencantar alguém com a exacta tonalidade sombria de Layne Staley, William DuVall. Os efeitos nefastos da ausência de Staley são assim estancados ao mínimo.
A força de "Black Gives Way to Blue" é, de facto, majestosa. E os Alice in Chains conseguem convencer-nos que este é, realmente, um dos grandes álbuns de rock pesado do ano.

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