quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Calexico, Algiers



Publicado originalmente aqui


Calexico 
“Algiers” 
City Slang / Popstock
3 / 5
Nada como caminhar entre as ruas de Tucson, a “maior” das cidades no sul do Arizona para compreender que a música dos Calexico não é senão uma natural interpretação daquele ar que se respira, da paisagem que nos envolve, das gentes com histórias de família que cruzam outras geografias... O México não está muito longe. O deserto envolve-nos. As memórias do Velho Oeste andam por ali... Foram estas as paisagens e heranças que, disco após disco, os Calexico (que moram precisamente em Tucson) traduziram em discos por onde se cruzam, sob alma alt folk, ecos que vão da countrya território mariachi, mais tempero menos tempero, criando uma música por vezes mais dada à sugestão de climas e paisagens que à construção de pequenas narrativas sob a forma de canções. Pois essa parece ser agora a sua vontade e, quatro anos depois de Carried to Dust (pelo caminho editando apenas um registo ao vivo, uma compilação e uma banda sonora), o novo Algiers mostra sinais de novos desafios. Por um lado temos um alinhamento feito de canções, aproximando mais que nunca a música dos Calexico de sentidos que decorrem de uma relação com as palavras e não apenas com as sugestões plásticas eventualmente escutadas na música. Por outro há toda uma nova geografia em seu redor, o disco tendo sido gravado perto de New Orleans, da estranheza e fascínio pela descoberta do lugar chegando algumas sugestões que acabaram por ganhar expressão nas composições (como de resto de escuta num Sinner In The Sea). Mesmo assim, em Algiers não vemos Joey Burns e John Covertino a fugir muito de um terreno seguro no qual têm já definida uma discografia com alguns momentos inesquecíveis. E em No Te Vayas, onde colabora o espanhol Jairo Zavala, garantem que não se esqueceram que a América latina é realidade fronteiriça da qual não abdicam. O álbum talvez não repita o encanto de alguns discos anteriores. Talvez aquele clima menos focado, feito de instrumentais que impedem um maior protagonismo vocal e a sua capacidade em sugerir espaços fossem terreno mais fértil na música dos Calexico. Talvez falte o mistério de realidades que se escondem nas sombras onde se foge do sol. Algiers é uma competente coleção de canções. Mas não repete os jogos de sensações de discos anteriores que quase faziam ver imagens e sentir o calor daqueles lugares.

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