quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Transformer :1972

Após abandonar a sua banda de sempre, os Velvet Underground, Lou Reed estava numa situação desconfortável que o arrastava para um abismo criativo e pessoal.

O seu primeiro álbum a solo, composto por canções rejeitadas pela sua antiga banda foi um fracasso comercial. Ainda para mais, o disco contava com a colaboração despropositada de Steve Howe e Rick Wakeman dos Yes. O "Prog" nunca seria a praia de "Mr. New York City". O "Glam" tavez...

Chegou então a ajuda do próprio "Deus do Glam-Rock", David Bowie, que no auge da "era Ziggy" se propôs produzir o segundo disco a solo (a gravar em Londres) de um artista esgotado e torturado, mas que ainda assim era uma das principais referências musicais do "Sr. Camaleão".

Bowie trouxe com ele o seu (genial) guitarrista Mick Ronson que teve um papel primordial na instrumentalização e nos arranjos das canções. Esta química não poderia falhar, sobretudo porque desta vez Reed trouxe maioritariamente canções novas (e não meras sobras do tempo dos Velvet, excepção apenas para "Satellitte of Love"). Temas que transpiravam à Nova Iorque de Lou: a decadência, a boémia, as ruas perigosas, as drogas, as prostitutas, os travestis, etc. Toda uma série de personagens que bem poderiam ter sido fabricadas num filme de Warhol.

O autor de "Heroine" fez questão de prestar aqui as devidas honras ao seu "guru" com dois temas "Andy´s Chest" e uma das melhores canções de rock de sempre: "Vicious"! Conta a lenda que foi o próprio Wharhol que inspirou Reed na frase "vicious, like I hit you with a flower".

Outro momento de particular inspiração acontece na balada "Perfect Day". Canção escrita para a sua ex-mulher Betty, mas que também serve de exorcismo da má fase passada na companhia da heroína. O piano que serve de base e que foi providenciado por Ronson é simplesmente: comovente e mágico.

Mais controverso foi o quase jazzístico, "Walk on the Wild Side", que quando foi lançado como single foi banido por uma série de estações de rádio. Para furar o bloqueio de uma canção tão imediata houve quem nos Estados Unidos chegasse a passar versões de 30 segundos contendo as partes do "to toro toro toro". Porém estas canções traziam consigo um "pedaço de realidade" do qual era impossível escapar. Escute-se também "New York Telephone Conversation", "Goodnight Ladies" ou "Hanging Around" para termos o quadro completo.

Mas é talvez "Satellite of Love", a canção mais magistral do disco. Com Bowie nos coros, esta é talvez a canção mais pop que Lou Reed escreveu, mas também das mais eficazes que o elevaria a uma outra categoria ou patamar de sucesso.

"Transformer" é um clássico não só por conter algumas das mais inspiradas canções de Reed. Como funcionou também como "o veículo" perfeito para o renascer de um dos melhores trovadores de sempre.


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