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Não tem sido fácil encontrar espaços para pensar as relações entre cinema e videojogos. Porquê? Porque cada vez que se chama a atenção para o simplismo de muitas dessas relações — será que filmar muitos corredores com grandes angulares e câmara à mão constitui, por si só, uma recriação interessante dos jogos? — surgem de todo o lado (em especial nos blogs) os discursos mais pueris a proclamar a "pureza" dos videojogos e a dignidade da "juventude" que os utiliza...
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Acreditemos que, para além dos seus méritos cinematográficos, o novo filme de Christopher Nolan — Inception/A Origem — vai contribuir para limpar o ambiente e enriquecer as reflexões sobre tais temáticas. Porquê? Porque as aventuras oníricas e virtuais de Leonardo DiCaprio são também filmadas como algo que não é estranho a algumas das mais interessantes potencialidades do universo dos videojogos. A saber:
1 - a reconversão das coordenadas clássicas da percepção doespaço;
2 - a reavaliação do tempo como elemento de qualquer narrativa;
3 - a problematização da identidade humana como "coisa" que se decide, não apenas num interior mais ou menos secreto e indizível, mas também num espaço/tempo cujas coordenadas são, historicamente e simbolicamente, susceptíveis de permanente interrogação.
De forma interessante, porque culturalmente ágil, esta última hipótese relança, não apenas a força simbólica dos sonhos no pensamento da nossa existência, mas também o discurso mais revolucionário que sobre eles trabalha: a psicanálise. Freud teria um sorriso feliz face a Inception.
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