terça-feira, 27 de julho de 2010

Roxy Music




Aviso prévio aos leitores: os Roxy Music são uma banda para levar a sério. Eles são mais, muito mais, do que a pop sintetizada de 'More Than This' ou 'Slave To Love'. Eram-no há trinta anos atrás, foram-no em Oeiras na passada semana e sê-lo-ão, se tudo correr pelo melhor, nos próximos anos. Logo de início ficou claro que este concerto não estava destinado a quem quisesse cantarolar os versos melosos que deram fama mundial aos Roxy Music. Com o palco inserido num jardim, muito verde e pitoresco, preparava-se terreno para uma noite de muito e bom rock.


Fazendo uma viagem no seu próprio tempo e passado, os Roxy Music foram resgatar os temas mais progressivos e avant-garde. 'Remake Remodel' mostrava um Phil Manzanera endiabrado na guitarra, com solos que não raras vezes roçaram o rock mais espacial dos Hawkwind. Andy Mackay, de saxofone em punho, ajudava a reforçar a viagem por vezes psicadélica. 'A Song For Europe' ou 'Ladytron' mostraram Mackay em expoente máximo, a criar texturas tão intrigantes quanto envolventes.


Bryan Ferry, esse romântico incurável, foi em Oeiras o mais puro e liberto artista. Está à vontade em terrenos férteis, mais artísticos, onde as suas palavras são quase de um poeta, profundo, complexo e nada superficial.

Os Roxy Music sentem-se tão bem neste papel mais artístico, que fogem de 'More Than This' o mais depressa que podem. O tema é tocado, a euforia sente-se, mas apenas durante os quatro minutos do tema. Quase nem damos por ele e quando acaba nem nos lembramos que foi tocado. 'Slave To Love', esse, não se ouviria.


'Editions Of You' reforçava os devaneios em que a banda vinha apostando desde o início. Com os versos em francês que lhe aumentam a carga dramática e que soavam quase fantasmagóricos e espectrais a pairar sob o recinto. Bryan Ferry e companhia mostravam o excelente momento de forma e química que atravessam.


Num alinhamento para muitos improvável e inesperado - que teve direito a intensidade agravada pelas projecções negras e introspectivas como o som que brotava dos instrumentos -, a parte final ainda valeu alguns momentos de festa aos muitos presentes.


'Jealous Guy' mostrou momentaneamente que os Roxy Music têm uma costela romântica e Bryan Ferry salpicou a música com o seu assobio descontraído. 'Love Is A Drug', 'Let's Stick Together' e 'Do The Strand' - como que para recompensar um público mais geral - foram servidos em modo rockabilly, dançável.


No final do concerto de Oeiras, ficou a sensação de que existem duas entidades nos Roxy Music. A distorção na guitarra e a voz de Bryan Ferry são os pontos comuns. Se uma parece preferir o rock mais dançável e directo, a outra prefere a intensidade, a experiência, a viagem musical.


A face espacial, progressiva e sinfónica é sem dúvida espectacular, mas mais cerebral e pode restringir os ouvintes da banda. A outra, mais festiva, pode trazer apenas mais uma banda ao mundo e perder-se entre tantas criações instantâneas, esquecendo afinal a arte que eles cunharam no rock.

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