sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Jisatsu sâkuru



Título original: Jisatsu sâkuru
Realização: Shion Sono
Argumento: Shion Sono
Elenco: Ryo IshibashiMasatoshi Nagase e Mai Hosho

Por bastante tempo este filme tem uma forma de policial como outro qualquer até que se transforma em algo que será mais fácil apelidar de Lynchiano para facilitar a comparação (e não a classificação, já agora) do grau de sentidos que há por descobrir neste filme.
Para uma audiência ocidental não familiarizada com a cultura nipónica, da qual faço parte, será muito difícil captar a ressonância identitária - à falta de melhor palavra para condensar tanto a espiritualidade de um povo como o seu comportamento social - que transforma a estranheza na lógica específica à sociedade que o originou e para a qual foi criado.
É possível sublinhar o que são, certamente, os traços mais evidentes da exploração da pestilência emocional encoberta debaixo da camada visível de assepsia esfuziante da sociedade. Tema que é mais forte dentro do próprio Japão, mas que é universalmente compreensível.
O sentido crítico do realizador é sublinhado pela criação irreverente e extraordinária, não
Ele atira-se ferozmente à difusão acrítica de modas e de imaginários maléficos à juventude, mais forte quando os gritos adolescentes elevam o suicídio em vez de uma qualquer banda; ao apagamento da identidade milenar e sua substituição por modelos ocidentais incongruentes, mais chocante quando uma estrela de glam rock se intitula o Charles Manson da era informática; desenraizamento emocional e substituição do contacto humano por qualquer oca oferta visual (internética ou televisiva), mais eficaz quando a música Mail Me cantada por um bando colorido de crianças é elevada acima da voz do pai de fmília.
Essa crítica está envolta na tal história moldável à imaginação do realizador. Uma imaginação que não facilita o caminho ao espectador nem negligencia nenhum elemento - por mais extravagante ou desmesurado - que possa acrescentar à estrutura viva que é a história.
Uma história comandada pela J-Pop de um grupo musical de crianças de 12 anos que parecem ter uma capacidade de sedução a que nenhuma pessoa parece resistir, em parte devido a uma visão imberbe mas, mesmo assim, mais profunda da vida do que aquela que quem ouve a sua música deveria já ter. Nem aqui a crítica se apaga da visão do realizador que, como já tinha escrito, não é falha de lógica global apenas não se rende às regras habituais.
A elegância extravagante com que o realizador compõem muitos dos elementos japoneses que são comuns (e, nesta visão crítica, comuns na revelação que nos é dada da sociedade nipónica) adensa o mistério do significado dos eventos que se agregam numa narrativa permanentemente intrigante e, à conta disso, muito sedutora.
Como com Lynch, há um plano da narrativa que poderemos sentir entender em plenitude, mas muitos outros pairarão no nosso subconsciente à espera de respostas que poderão nunca chegar. E com isso estamos obrigados e satisfeitos por ter de voltar a ver este filme.





Escrito por Carlos Antunes em http://splitscreen-blog.blogspot.com/

O meu agradecimento especial à equipa do blogue http://splitscreen-blog.blogspot.com/ pela permissão de replica de conteúdo.

Aproveitem e visitem, para mim o melhor blogue de cinema!
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1 comentário:

João Tavares disse...

Este tipo de filmes não fazem o meu género... :(
A novidade Smashing só peca na ausência de um concerto no Porto.