Ex-'barman' contradiz novo livro polémico
As eternas incógnitas sobre o que terá acontecido no momento da morte de Jim Morrison fazem parte da construção de um dos maiores mitos da história do rock'n'roll. Um mito que conta que, a 3 de Julho de 1971, o vocalista dos The Doors foi encontrado, sem vida, pela sua companheira, na banheira de um apartamento no número 17 da Rue Beautreills, em Paris. Sem evidências visíveis de agressão física, portanto sem hipotético cenário de crime, o corpo não foi autopsiado. E foi decretada morte por causas naturais. Há poucos dias, um livro publicado em França, assinado pelo então gerente do clube Rock'N'Roll Circus, revelou uma outra tese. Em The End: Jim Morrison, Sam Bernett conta que Jim Morrison foi encontrado na casa de banho do seu clube. De corpo inerte, aparentemente vítima de uma overdose. E sugere que ali terá morrido e, depois, transportado até ao seu apartamento pelos mesmos dois homens que algumas horas antes lhe tinham vendido a heroína.
Mas eis que surge quem agora conteste as palavras deste livro que já acendeu a polémica. É português, vive em França e, nessa noite de 1971, trabalhava como barman no Rock'N'Roll Circus. De resto, como relata, foi ele quem, depois de alertado por Brigitte, a porteira, encontrou Jim Morrison caído na casa de banho do clube.
No Rock'N'Roll Circus, a casa de banho e o vestiário ficavam ao nível do rés-do-chão. O clube propriamente dito encontrava-se depois de descer umas escadas, já na cave. A porteira Brigitte tinha um código de chamamentos de alerta aos barmen que trabalhavam no clube. "Já conhecíamos o código", recorda José Simas. "Subi as escadas em dez segundos... E ela disse que ninguém podia entrar na casa de banho... Porquê? Não sabia...", acrescenta. Começou por tentar fazer entrar um braço, depois uma perna, até que conseguiu espreitar lá para dentro. "Vi um tipo, sentado no chão. O meu amigo Claude, que vinha atrás de mim, dizia uma frase do género 'este é um drogado que está aí no chão'. Entrámos. Peguei nele e o meu amigo veio ajudar-me a transportá-lo cá para fora. E aí ficou, amarfanhado...", descreve. Na altura, salienta, não sabia ainda quem era aquele homem.
José Simas conta que Brigitte, a porteira, disse então que ia chamar um táxi. "Numa discoteca, em qualquer país do mundo, se há um problema, fecham a casa. E eu só sabia que aquele era um drogado e que íamos ter problemas", defende o homem que, na altura, somava já alguns anos de experiência na noite parisiense. Só soube que era o cantor dos The Doors mais tarde, entre conversas na discoteca. O aspecto do homem que viu no chão do clube era distinto da imagem em tempos mediatizada. "Estava muito diferente", afirma, olhando para uma foto antiga (e icónica) do cantor.
Segundo o relato do então barman, o corpo inerte de Jim Morrison esperava, então, o táxi, no chão do vestíbulo do clube. Respirava? "Agora é que já não posso afirmar", adverte o português. Mas acrescenta que não teve "a sensação de transportar um morto. Mas não o posso afirmar. Era de noite... era coisa para umas três da manhã. Meti-o no táxi, fechei a porta e seguiu". E sublinha, "foi sozinho no táxi".
"Sei que tínhamos muita gente naquela noite. Ele [Sam Bernett] diz que tinha um amigo médico. Agora quem foi à casa de banho fui eu. E atrás estava o meu colega Claude, que é meu padrinho de casamento. Nós é que o descobrimos, mas o Sam Bernett é que fica com os louros." E remata: "Para mim, esta história foi um dia no Circus", descreve José Simas, que recorda muitas outras situações "como esta".
Não tem particular curiosidade em ler o livro de Sam Bernett, que descobriu através dos jornais. Mas ao regressar a França admite lê-lo.
O facto de se ter cruzado com Jim Morrison na noite em que o músico morreu não mudou em muito a sua relação com o ícone do rock'n'roll que tirou do chão da casa de banho do clube onde trabalhava. Não tinha nem tem discos dos The Doors. Quem o marcou, musicalmente, foi Elvis Presley, que descobriu ao som de All ShookUp, ainda bem jovem.