sexta-feira, 2 de março de 2012

"Vergonha": sexo explícito?...

Publicado originalmente em: sound+vision


Vergonha (Shame), de Steve McQueen, com Michael Fassbender, é por certo um dos mais espantosos filmes que já se fizeram sobre a vivência mais íntima e mais sofrida do sexo, sobre a sua relação com a solidão, a moral e a morte. Mas antes mesmo de tentarmos reflectir um pouco sobre tão perturbante objecto, vale a pena perguntar de que estão a falar as notícias mais ou menos sensacionalistas que se referem ao filme como tendo cenas de "sexo explícito"?...

Será que nos podem explicar, por contraponto, o que são cenas de "sexo implícito"? Ou será que apenas distinguimos as formas de representação da experiência humana, em qualquer dimensão, apenas pelos centímetros de pele que são expostos ou pela maior ou menor visibilidade dos órgãos genitais?

A questão está longe de ser meramente sexual, já que é visceralmente cultural. No fundo, remete-nos para a ilusão segundo a qual vemos "mais" quando vemos aquilo que, por norma, não é fotografado ou filmado. Há muitas nuances neste universo, uma das quais, por certo a mais pueril, consiste em sugerir que uma câmara tipo "Big Brother" possui uma espécie de automático privilégio de "verdade" (tivemos o recente exemplo da conversa dos ministros das Finanças de Portugal e Alemanha...). Digamos apenas, para já, que seria uma pena que a sinceridade radical de Vergonha fosse enfrentada a partir de conceitos tão banalmente televisivos.

>>> Steve McQueen: entrevista no Hollywood Reporter.

Sem comentários: