Publicado originalmente em Sound + Vision
Memórias de filmes afastados daquelas listas habituais que fazem a conversa de todos os dias. Filmes "perdidos". Ou se preferirem, "filmes pedidos"... Hoje lembramosHi Mom!, filme de 1970 de Brian de Palma, que aqui é evocado por Ana Deus, que hoje integra os Osso Vaidoso. Um muito obrigado à Ana pela colaboração.
Foram muitos os filmes perdidos em anos de deitar tarde e mau erguer. Ken Russell e velhos Brian de Palma aparecem misturados e aturdidos.
Mas há um que me fazia abrir o olho mesmo a más horas, Hi mom!, Brian de Palma, 1970. Desfocadas, tremidas, em zooms exagerados, as imagens aparecem através das filmagens de alguns personagens que vivem a euforia das novas super 8. Robert de Niro é um deles. Biscateiro e pornógrafo de trazer por casa, tenta fazer um filme, ao qual chama Peep Art, filmando os seus vizinhos através de uma "Janela indiscreta".
Mal sucedido, numa série de trapalhadas à cinema mudo, troca a câmara por uma TV e embarca numa produção teatral de um grupo de ativistas negros. Aí as coisas mudam de figura, o filme perde a cor e o tom cómico desaparece. Toda a performance é filmada a preto e branco, as imagens são trepidantes e violentas. De Niro faz convictamente de polícia numa experiência de Living theater onde o público branco é insultado e espancado, para sentir na pele o Be black baby que dá nome à "peça" Acabam na rua desgrenhados tecendo, perante uma câmara, declarações elogiosas a toda a experiência, intelectualizando a violência e "encaixando" tudo aquilo.
E vai descabando...
Os atores são abatidos quando tentam levar a experiência para os bairros sociais e De Niro faz explodir o próprio prédio onde entretanto encetou uma vida doméstica.
Os últimos planos mostram De Niro, no meio de outros transeuntes, a comentar o sucedido inocentemente perante repórteres de noticiário e despede-se com a saudação que dá nome ao filme.
Hi mom! é uma pérola...negra.
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