terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Leonard Cohen - Old Ideas


Publicado em http://cotonete.clix.pt/noticias/body.aspx?id=49432 por Gonçalo Palma



Há mais de 20 anos que Leonard Cohen não fazia um álbum tão bom. Embora esta possa parecer uma afirmação retumbante, não estamos a falar de nenhum grande feito se pensarmos na escassez da colheita ­- apenas três álbuns de originais nas duas décadas anteriores ­- e na inconsequência da mesma. Se The Future (de 1992) e Ten New Songs (de 2001) são álbuns medianos com algumas grandes canções, Dear Heather (de 2004) é uma mera declaração presencial com 12 músicas a mais.
Como a criação musical é pouco amiga da estabilidade e de reclusões espirituais em mosteiros (budistas ou não), foi preciso uma pequena tragédia para despertar Leonard Cohen outra vez para a excitante vida artística -­ quem sabe mesmo, para a vida. A descoberta de um brutal desfalque financeiro na conta de Cohen provocado por uma manager burlona obrigou o cantor setentão a sair da hoje designada "zona de conforto", ao recuperar a juventude numa digressão mundial de três anos que surpreendeu tudo e todos, sobretudo no período de arranque, em 2008. 
Dentro da mesma leva, nesta nova vida de Cohen, surge-nos Old Ideias, que de feio só tem a capa. O álbum tem o mesmo tipo de virtudes de I'm Your Man (de 1988), o longo que melhor redefiniu a imagem de Cohen enquanto um gentleman galã, uma espécie de Sinatra da trova, que não renega os luxos de bons hotéis ou de uma banda numerosa bem apetrechada.
O módulo de Old Ideas, com toques de kitsch, é reconhecível mas aberto e exploratório. Um violino chorão embrenha-se com um órgão de qualidade caseira; a bateria parece tocada por um jazzman preguiçoso, lado-a-lado com um piano smooth bem desviado para a Cohenlândia e um saxofone pontual que avista Kenny G só que do outro lado da barricada onde se encontra o bom gosto. O toque de conforto vem da voz sussurrante de Leonard Cohen, o homem de spoken-word que tenta cantar. A alavanca para o supremo vem do incontornável amparo feminino dos coros, quais sereias ao serviço do charmoso trovador numa terra de sonhos que não existe.
Old Ideas, que faz da terceira idade de Cohen a terceira juventude, é uma sucessão de guinadas, algumas bem poderosas como Going Home e Show Me the Place que dão um diagnóstico prematuro da saúde do disco. Há também algum blues-rock desacelerado ao modo de um espectáculo de casino (Darkness). Crazy to Love You dá-nos o Leonard Cohen acústico vindo directamente dos seus primeiros álbuns; Come Healing é folk de gala com perfume feminino, no qual o cantor-mor confia quase tudo ao poder das harmonias vocais femininas (numa aproximação sensorial às recentes versões ao vivo de If It Be Your Will que Cohen entregou às vozes das Webb Sisters). 
Em 2012, as canções novas de Leonard Cohen voltam a ser algo de vital para as pessoas. Old Ideas é um dos primeiros álbuns do ano, senão o primeiro, a que vale a pena empregar o nosso tempo. Repetidamente.

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