segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

As escolhas do Sound+vision para 2011

Um disco:
'Video Games', de Lana del Rey





N.G.: Lana del Rey foi uma das revelações maiores de 2011. Uma música que sabemos ser de agora mas que carrega toda uma história feita de memórias. Uma voz que sabe vestir uma ideia de interpretação como um actor que entra num papel. E duas belíssimas canções neste EP de estreia que abriu apetites para o álbum que agora vem a caminho.

J.L.: Será que estamos a assistir a uma "nova vaga" romântica? E poderá Lana del Rey ser a líder simbólica de tal movimento? Uma coisa é certa: o dramatismo distanciado da sua voz, a nonchalance da sua pose e as qualidades dos seus telediscos transformam-na, desde já, num caso sério de energia criativa. Mais do que uma promessa, uma certeza.

Um filme:
'Alvorada Vermelha' de João Pedro Rodrigues
e João Rui Guerra da Mata




N.G.: 2011 foi um ano particularmente vibrante para o cinema português. E para o panorama em geral um tempo de belíssimas revelações na área do cinema documental. Não é por isso que Alvorada Vermelha represente um eventual dois em um. O filme vale em tudo por si mesmo. Abrindo por um lado a cortina sobre mais imagens e olhares que nos esperam em A Última Vez Que Vi Macau. E mostrando como um documentário pode não ser apenas um retrato do que se vê, mas antes uma interpretação na expressão de um olhar sobre o que observa.

J.L.: Estranho poder o do cinema: o de aplicar um olhar mais ou menos descritivo para, a pouco e pouco, instalar o sentimento desconcertante de passagem para um universo outro, onde realidade e sonho, vida concreta e existência mitológica coexistem num delirante processo de contaminação — não acontece todos os dias, nem em todas as cinematografias; este exemplo (raro) é eminentemente português e sabe confrontar-nos com as memórias paradoxais de Macau.

Um livro: 'Apenas Miúdos'
de Patti Smith





N.G.: Tinha já passado por aqui há um ano em tempo de edição internacional. Em 2011 chegou a tradução portuguesa. Mais não fez senão o sublinhar de um raro talento na escrita de uma voz que não apenas referência do punk mas antes uma força maior da cultura americana do século XX. Ao evocar aqui a Nova Iorque dos setentas, a figura de Mapplethorpe, ecos de músicas, livros e imagens, o livro de Patti Smith é um verdadeiro retrato da cultura do nosso tempo. O que hoje somos passa, de certa forma, por aqui.


J..L.: É bem verdade que algumas das grandes figuras da música popular (de todas as origens) são admiráveis contadores de histórias. Patti Smith é um caso tanto mais extraordinário quanto os seus dotes narrativos se aplicam também às zonas mais íntimas da sua história pessoal. Neste caso, evocando Robert Mapplethorpe, Smith consegue combinar com raro fulgor o testemunho social, a memória cultural e a mais secreta arte confessional.

Um site: Glass Engine
em http://www.dunvagen.com/music/glassengine.php#



N.G.: O debate sobre como deve um músico assegurar o acesso à sua obra pode conhecer no site oficial de Philip Glass uma importante contribuição. Chama-se Glass Engine e é, simplesmente, um arquivo de sons gravados que permite (re)descobrir a música de Philip Glass. A audição é gratuita e legal. Os arquivos áudio são disponibilizados pelo próprio compositor, tomando os seus Looking Glass Studios como "biblioteca". E qual não é o meu espanto quando ali descubro vários excertos da ópera o Corvo Branco?

J.L.: Via Net, como entrar na obra de Philip Glass? Em boa verdade, a partir de qualquer lugar, qualquer tema, qualquer obra. O Glass Engine é um caso exemplar de integração dos poderes do virtual nas formas de divulgação da música, nessa medida ajudando também a entender a dinâmica de trabalho de Glass: um músico capaz de gerar a sua própria geometria criativa, preservando-a e transfigurando-a através de todos os canais de comunicação.

Publicada por Nuno Galopim em Segunda-feira, Janeiro 09, 2012

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