quarta-feira, 23 de março de 2011

The Strokes, Angles



The Strokes

“Angels”

RCA / Sony Music

2 / 5


Era um dos mais esperados álbuns de 2011. E sabíamos, desde há muito, que traduziria um tempo diferente na vida dos Strokes, as canções tendo nascido entre uma banda dividida, as vozes e ideias de Julian Casablancas surgindo à distância e enviadas aos demais parceiros via email... Era portanto lícito aguardar-se por algo que não traduzisse o que poderia ser um natural passo adiante de First Impressions of Earth, a soma das partes que entretanto representaram experiências a solo podendo assim gerar a sugestão de eventuais novos caminhos. Mas na verdade Angels mais não parece senão um desmotivado exercício de calendário por cumprir, entre a sucessão das canções que formam o alinhamento não surgindo, em algum momento, a alma que dos Strokes fizera um dos (justificadamente) mais aclamados entre os casos do rock'n'roll na década dos zeros. Undercover Of Darkness, apresentado como single-aperitivo há algumas semanas, revelava um mapa de atenções apontadas aos mesmos azimutes que em tempos definiram a estreia em Is This It... Ao entrar depois no coração de Angels o que se sente é que, todavia, não há um real caminho por aqui. Antes, um amontoado de canções que seguem ideias e linhas várias, de instantes que seguem mais de perto as experiências recentes de Casablancas no seu Phrazes For The Young (como se escuta, por exemplo, em Games), pontualmente o desafio do tactear de outros espaços surgindo como, por exemplo, acontece ao som de Two Kinds Of Hapiness, que aceita memórias pós-punk que evocam os melhores dias dos Cars ou o novo flirt melancólico de Call Me Back. Contudo, o que mais falta em Angelssão as canções. É que, mesmo quando os Strokes fizeram do segundo disco uma ligeira variação das ideias que haviam ditado o primeiro, a escrita defendeu-os, dando-lhes mais uma mão cheia de momentos que marcaram o seu tempo. O mesmo não acontece aqui, pelas dez canções que fazem a história deste quarto álbum do grupo nova-iorquino raras sendo as ocasiões em que reconhecemos o fulgor que lhes deu o estatuto que mereceram. De facto, forçada, a coisa não tem a mesma verdade da ideia que nasce de um real sentido de entusiasmo criativo. E isso é coisa que não parece ter morado entre o making of deste álbum.



Publicada por Nuno Galopim em http://sound--vision.blogspot.com/

Sem comentários: