sábado, 30 de junho de 2012

Preguiças, mamutes e muito gelo


Publicado originalmente em sound+vision

Os desenhos animados em 3D talvez não precisassem de ser em... 3D! Mas é um facto que continua a haver exemplos felizes como A Idade do Gelo 4: Deriva Continental, de Steve Martino e Mike Thurmeier — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 Junho), com o título 'O prazer pré-histórico da narrativa'.


Podemos duvidar (eu duvido, em todo o caso) da pertinência da aplicação do formato 3D num filme como A Idade do Gelo 4: Deriva Continental. Podemos até questionar esta insólita fuga para a frente do cinema americano a três dimensões, na animação e não só, “obrigando” filmes que existem muito bem em imagem clássica a integrar o “suplemento” tecnológico do 3D. Mais ainda: podemos supor que o carácter postiço, não motivado, de muitas formas de tridimensionalidade está a afastar cada vez mais espectadores (há índices que apontam para isso) e a gerar um retorno aos prazeres das cópias normais.
Podemos considerar o cepticismo que tudo isso envolve, mas nada disso anula a radiosa certeza desta saga pré-histórica: estamos perante um caso exemplar de um contagiante sentido de espectáculo. Que espectáculo? Por certo não essa banalidade economicista que confunde a histérica acumulação de “efeitos especiais” com emoções garantidas (haverá coisa mais monótona e sensaborona que a história de Abraham Lincoln a... caçar vampiros?). O sentido do espectáculo é, acima de tudo, o rigor da narrativa: A Idade do Gelo 4 é mais um exemplo feliz de revitalização dos padrões tradicionais da fábula familiar, com mamutes, tigres e algumas irresistíveis preguiças (John Leguizamo é genial na voz de Sid) a cumprir a lógica mais funda deste tipo de narrativa. A saber: encontrar um lugar para viver.
Modelo de sucesso dos estúdios da 20th Century Fox, A Idade do Gelo 4 propõe também um precioso complemento. Assim, a abrir, temos uma curta-metragem dos Simpsons [The Longest Daycare], protagonizada pela pequena Maggie, vivendo um dia difícil na escola. E quando falamos de arte da narrativa, regressar aos Simpsons envolve sempre algo de pedagógico.

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