quinta-feira, 26 de abril de 2012

Este é o Meu Lugar, por Tiago Ramos


Há uns dias postei cá a minha critica pessoal ao filme, hoje posto uma critica de quem percebe de cinema.



Título original: This Must Be the Place (2011)
Realização: Paolo Sorrentino


O que mais me deixa curioso neste novo trabalho do realizador italiano Paolo Sorrentino é a forma como demonstra ser tão polarizador de opiniões, tal como foi evidenciado por exemplo nas exibições nacionais em festivais (Fantasporto e 8 ½ Festa do Cinema Italiano) com um burburinho no final da sessão entre divisões sobre quem não gostou absolutamente nada do filme e tantas outras a transmitirem o seu entusiasmo pelo filme. Não que não seja algo habitual no cinema, a diversidade de opiniões, mas neste Este é o Meu Lugar pareceu-me deveras mais evidente, sem perceber ao certo o motivo.


Reacções à parte, Este é o Meu Lugar é uma drama existencial com toques de uma inusitada e bizarra comédia assente especialmente no seu protagonista: uma estrela de rock caída no esquecimento, visualmente inspirada em Robert Smith, dos The Cure. Uma composição de Sean Penn que, longe de ser o seu melhor trabalho, é com certeza um dos mais estranhos e interessantes que teremos oportunidade de ver este ano. Um desempenho que se inicia de uma forma confrangedora, mas que rapidamente ganha coração e consistência, no papel de um homem que busca a sua própria identidade enquanto parte em busca da memória do seu pai. É esse o mote para o filme que acaba por subtilmente se desenvolver num road movie que culmina numa previsível viagem pessoal de crescimento do protagonista. Um road movie que serve também de justificação para uma primeira incursão do realizador italiano no mercado norte-americano e que permite também evidenciar a sua belíssima mise-en-scène bem como a fotografia de Luca Bigazzi. Uma jornada feita ao som da banda sonora de David Byrne - que também surge no filme em nome próprio - e Will Oldham.

Curiosamente é também quando essa viagem começa que o filme ganha forma de um nostálgico marasmo que ameaçava abater-se de início e que só parecia salvar-se graças ao desempenho de Frances McDormand. É aí que o argumento ganha contornos deliciosos numa história que mesmo bizarra e por vezes demasiado rebuscada contraria-se com referências culturais e subtis, num tom delicado e emotivo. E embora o seu final caia em grande previsibilidade, Este é o Meu Lugar deixará um sorriso nos lábios de tão evidente, mas afinal eficaz fórmula, de redenção e busca pessoal.




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