quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

John Talabot - “Fin”




John Talabot 
“Fin” 
Permanent Vacation 
5 / 5
Podia ser uma banda sonora para o outro lado da noite. Aquelas horas depois da euforia, quando um sentido de desencanto invade o que antes parecia luminoso e festivo mas, afinal, não é. Melancolia é talvez a palavra central entre os caminhos que encontramos entre Fin, o álbum que assegura a estreia (sob este nome) de John Talabot, músico que há já alguns anos é força reconhecida entre o panorama da música electrónica de Barcelona. Já assinou momentos feitos de mais cores e luz, já trabalhou para responder às solicitações da pista de dança, mas em Fin o que encontramos é precisamente o que pode morar nas horas de ressaca. Sem que busque necessariamente um programa narrativo, o disco define uma sucessão de quadros com prólogo em Depak Ine, tema que junta a evolução de uma matriz que chega mesmo a acolher ecos de memórias de registos electrónicos de sabor antigo (mas sem embarcar nos mimetismos à la oitentas de muitos outros seus contemporâneos), encenando um espaço que não deixa dúvidas sobre o tom que vai dominar o que se segue. Há breves momentos cantados. Dois deles em colaboração com Pional, estabelecendo assim pontes de diálogo madrileno, em So Will Be Nowdefinindo mesmo um magnífico exemplo de canção desenhada sobre heranças deep house. Num terceiro, Journeys (com Ekhl), revelando-se uma certa proximidade com os campos da invenção indie atual (terrenos Animal Collective e arredores) que ajudam a localizar Fin como espaço de invenção atento a outros acontecimentos do nosso tempo. Melodista e tranquila, a música de John Talabot mostra cor, dinamismo, envolvência e, sobretudo um clima emocional. Ocasionalmente sugere afinidades com a elegância minimalista de um Pantha du Prince, noutras abre horizontes a relacionamentos com outros acontecimentos e referencias que, sem perder o firme sentido de unidade que agrega o alinhamento, fazem de Fin um espaço de horizontes abertos. Desencantados, magoados. Mas não desistentes. Como que a dizer que, apesar do nome, este não é um fim. E assim nasce o primeiro álbum obrigatório de 2012.

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