segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Air "Le Voyage dans la Lune"

Publicado originalmente em sound+vision

Air
"Le Voyage dans la Lune"
Virgin / EMI
3 / 5
No principio eram as imagens. A preto e branco, sem som. Mas revelando uma visão que encetou, em 1902, a história do cinema fantástico, sonhando uma viagem da Terra à Lua que tomava como principais fontes de inspiração os livros Da Terra à Lua de Jules Verne (de 1865) e Os Primeiros Homens na Lua, de H.G. Wells (de 1901), dois títulos de importante pioneirismo da literatura de ficção científica. A descoberta, nos anos 90, de uma cópia colorida à mão de Le Voyage dans La Lune, de Georges Meliès, abriu portas a um processo de restauro que se fez longo, mas de vistas largas, à recuperação das imagens tendo sido pedida aos Air uma nova banda sonora para acompanhar a versão recuperada, a cores e... com som. Quiseram os músicos não deixar as ideias entretanto criadas aos 16 minutos do filme e daí partiram para a criação de todo um álbum que, mais que a banda sonora de um reencontro com a memória do cinema, resulta assim numa expressão de como a história das imagens serve afinal de motor para a criação de visões feitas de sons. Menos centrado em ferramentas electrónicas que alguns dos títulos da obra dos Air, reencontrando ainda alguma lógica mais próxima de heranças progressivas que escutávamos nos instrumentais de Moon Safari (1998) e até mesmo nos singles que antecederam a edição desse marcante álbum de estreia (mais tarde reunidos sob o título Premiers Symptomes). O disco é essencialmente instrumental, abrindo espaço à colaboração vocal de Victoria Legrand (dos Beach House) em Seven Stars e às Au Revoir Simone em Who am I Now?, as duas únicas canções do alinhamento (sendo que há ainda interessantes elementos vocais em Cosmic Trip). Focado numa ideia, definido pela solidez de um conceito, Le Voyage dans La Lune é um álbum não apenas mais próximo da essência da alma primordial dos Air como representa o seu melhor esforço conjunto desde Talkie Walkie (de 2004). Porém estamos longe, muito longe, dos dias em que as canções de Moon Safari, 10.000 Hz Legend ou a música para As Virgens Suicidas, de Sofia Coppola, fazia da dupla francesa uma das bandas mais inspiradas e inspiradoras em tempo de chegada de um novo milénio.

1 comentário:

Man On The Moon disse...

Ouvi o disco no FDS, ando a escrever sobre ele e soube-me a pouco, porque há ali momentos muito bons... Mas acabam por ser "flashes", digamos assim...