“O” álbum capaz de assentar que nem uma luva ao mais central dos cânones maiores do chamado som pop/rock de alma indie? Ou seja, o disco herdeiro do altar Velvet Underground + Joy Division (mais referência, menos referência, mais tempero, menos tempero), que teve no ano passado visibilidade maior (e aclamação) no mais recente álbum dos The National. “O” disco chegou na forma de You & Me, quinto álbum dos The Walkmen, uma banda nascida em Nova Iorque da reunião de músicos crescidos, em grande parte, na área de Washington DC. Na verdade já todos tinham experiência na música feita na “grande maçã”, três deles a bordo dos Jonathan Fire Eater, dois nos The Recoys. Em 1998 a separação dos primeiros abriu portas para a criação da banda, que então conheceu primeira sede de trabalho num pequeno estúdio no Harlem. Até aqui relativamente longe do gume das atenções (um pouco como acontecera aos The National pré-Boxer, apesar do “despertar” de curiosidades com Alligator), os The Walkmen conceberam aqui um dos mais estimulantes dos discos que, nos últimos anos, aceitaram este “cânone” como ponto de partida. Porém, ao contrário das multidões que continuam a fazer vénias às figuras de referência que edificaram este mesmo filão central da identidade pop/rock alternativa sem mostrar vontade de fugir às regras (e veja-se como se esgotaram rapidamente as ideias dos Interpol, Editors ou tantos outros) os The Walkmen propõem aqui uma deliciosa montra de “heresias”. Heresias que, sem contrariar a alma solitária que assombra canções magoadas, pincela cenários com linhas e cores que cativam atenções e sugerem novos olhares sobre velhos princípios. Aqui se fala de praia, da areia que ficou na mala e do sal que ainda se sente nos dentes... Por aqui paira um desencanto teatral à la Tom Waits... Metais temperam com outra melancolia momentos como Red Moon ou Canadian Girl. E esta última quase parece piscar o ouvido às genéticas da canção soul... Depois de experiências menos “canónicas” em discos recentes, You & Me assinala o reencontro dos The Walkmen com a identidade primordial da sua obra. Fá-lo não apenas sob a já citada vontade em abordar de forma estimulante, sem contudo sentir a necessidade de transgredir, um espaço já “clássico” da cultura indie. Mas também com uma impressionante colecção de camções. Os fiéis do “cânone” podem dar-se por bem servidos!
Eu sou suspeito e quando há referências a Joy Division e a The Velvet Underground, tenho de ouvir. Fi-lo e adorei. Aconselho este album, ainda que um pouco tardiamente, é de 2008.
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