quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Milk


Chega hoje às salas de cinema Milk, o biopic sobre Harvey Milk, assinado por Gus Van Sant que tem coleccionado prémios e nomeações (oito delas para os Óscares). Seguindo opções narrativas mais “convencionais” que nos mais recentes Gerry, Elephant ou Paranoid Park, o filme evoca a vida do primeiro homem abertamente gay eleito para um cargo político nos EUA, assassinado alguns meses depois de tomar posse por um antigo colega de trabalho. Van Sant toma como coluna vertebral da narrativa uma série de memórias que Milk (brilhantemente interpretado por Sean Penn) regista numa cassete. Palavras que grava temendo a morte, uma das sombras que sempre o perseguiu desde que ganhara visibilidade política. A história segue, depois, o percurso como o tempo o acompanhou. Começando em Nova Iorque, em inícios da década de 70, revelando um homem a chegar aos 40 anos, frustrado por de nada até então a sua vida ter servido. Mudando-se para São Francisco, transformado pelos ecos da contracultura de 60, descobrindo em si uma motivação activista, lutando pelos direitos dos homossexuais primeiro à volta de um espaço de bairro, acabando a falar para a cidade, com repercussões pelo país. Sean Penn tem sido frequentemente citado pela composição de uma personagem que incorporou com impressionante realismo. Protagonista, sem dúvida. E num dos melhores papéis da carreira de Penn. Milk não é, contudo, um filme de actor. Mas de actores. E a sua força resulta do relacionamento de Sean Penn com todo um elenco igualmente notável. Um corpo comum que envolve actores como James Franco, Josh Brolin, Emile Hirsh ou Diego Luna. Na realização mora outra das peças fulcrais no relatar de uma história real, mostrando Van Sant saber usar com conta, peso e medida pontuais citações de época, com imagens reais, evitando todavia as soluções mais lineares dos retratos biográficos que muitas vezes conhecemos nas recriações em registo docudrama.
Harvey Milk é uma figura com um certo peso na história da política americana. Em finais dos anos 70, depois de uma sucessão de derrotas eleitorais, foi eleito para um lugar na equipa de “supervisores”, cargo de relevância na estrutura autárquica de São Francisco. Longe de ser um ilustre desconhecido, Harvey Milk foi já biografado num livro de Randy Shilts (The Mayor Of Castro Street), assim como sobre ele Rob Epstein rodou, em 1984, o documentário The Times Of Harvey Milk (que este ano terá edição em DVD). Uma outra recente referência a Harvey Milk surgiu no documentário Follow My Voice: With The Music Of Hedwig, de Katherine Linton (2007), que acompanha o tributo que uma série de músicos (entre os quais as Breeders, Frank Black, os Yo la Tengo ou Rufus Wainwright) gravaram a partir canções da banda sonora de Hedwig & The Angry Inch, de John Cameron Mitchell, criando um disco que recolheu fundos para apoiar a Harvey Milk School, em Nova Iorque.
in sound+vision

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