David Lynch
“Good Day Today / I Know”
Sunday Best
4 / 5
Não constitui já surpresa nenhuma falar-se do envolvimento de David Lynch em mais um disco. Com efeito, ora relacionados com o seu cinema (e produção televisiva), ora apenas com fins meramente musicais, Lynch assinou já importantes momentos de criação com a música como elemento protagonista, seja nas colaborações com Julee Cruise e Angelo Badalamenti (que culminaria no pouco divulgado filme-concertoIndustrial Symphony Nº 1) ou no mais recente (e menos consequente) parceria com John Neff no projecto BlueBob... Mas em finais do ano passado surpreendeu-nos com a edição (inicialmente apenas digital) de um single em terrenos electrónicos, que agora surge em formato físico (tanto em CD como num luxuoso pack em vinil), que junta às versões originais dos temas Good Day Today e I Know uma série de remisturas que convocam nomes como, entre outros, Sasha, Underworld, Boys Noize ou Diskjokke. Apesar do alargar de horizontes que reconhecemos em qualquer operação de remistura alargada a vários criadores, o melhor do disco de David Lynch na verdade apresenta-se nas versões das canções, o que valoriza mais ainda esta aventura do realizador, nele revelando potencialidades que, na verdade, até aqui nunca ousara expor desta forma.Good Day Today é uma belíssima canção centrada num modelo repetitivo e que, sob a voz (processada) do próprio David Lynch, apresenta uma ideia de pop melancólica depois magnificamente cenografada e “filmada” com a ajuda das electrónicas de Dean Hurley. I Know parte de ecos da genética dos blues e caminha mais perto de assombrações que poderíamos imaginar em bandas sonoras de vários dos seus filmes. O protagonismo musical que Lynch aqui assume expressa-se ainda pelo seu não envolvimento na criação das imagens que servem o disco. Ao contrário do que acontecera na recente colaboração com Danger Mouse em Dark Night Of The Soul, as fotos usadas, mesmo que “lynchianas”, chegam sob outra assinatura. E o design cabe ao mui ilustre Vaughan Oliver. Continue pelos discos, Sr. Lynch!...
Publicada por Nuno Galopim
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