Sintra Misty: John Grant em Sintra [texto + fotogaleria]
Num cenário de palácios e castelos, a estreia em Portugal do autor de um dos melhores álbuns de 2010 fez-se em grande, mesmo sem a voz em plenas condições.A espera foi longa para quem se apaixonou por Queen of Denmark em 2010, mas o concerto do norte-americano John Grant esta noite em Sintra compensou a espera. "Finjam que sou o Tom Waits esta noite", disse o músico, depois de explicar que a sua voz não se encontrava na melhor das formas, antes de terminar uma atuação (justificadamente) sem direito a encores com a belíssima "Little Pink House", canção dedicada à falecida avó e escrita ainda com os Czars, banda "enterrada" em 2004.
"Obrigado" foi a primeira palavra que um público devoto ouviu da boca de Grant. Em pouco mais de uma hora, o músico, que no início se mostrou avassalado por Sintra, passeou-se pelas músicas do primeiro e único álbum a solo até à data, com simplicidade intensa, marcada por uma voz corpulenta e postura altiva, fazendo também incursões esporádicas pelo repertório dos Czars e apresentando, a abrir, dois temas que serão incluídos no próximo disco ("mais negro", que versará sobre "o fim de uma relação"). A acompanhá-lo esteve um "talented motherfucker", que o ajudou na missão de tomar conta, à vez, do piano e dos sintetizadores.
Com uma voz que, em momentos, nos parece arrastar-se de forma similar à de Rufus Wainwright, Grant começou com as novidades: "You Don't Have" vagueia entre eletrónicas subtis, que casam bem com uma toada negra aprofundada em "Vietnam", com o músico já sentado ao piano. Sempre espirituoso - mesmo depois de perceber que a voz ia começar a dar-lhe problemas -, o músico recordou a sua infância passada no Michigan por diversas vezes, ora para explicar a história de "Marz" (tema escrito com a ajuda de um menu dos anos 40 de uma loja de doces muito especial), ora para pôr a nu as três imagens que o ajudaram a escrever "Fireflies", tema bónus de Queen of Denmark .
Foi com teclas dramáticas e malabaristas que o músico deixou a sala do Olga Cadaval em suspenso, em temas como "Sigourney Weaver", com o humor ácido das palavras a exultar um público que se manteve sempre de olhos pregados a todos os seus movimentos; "Where Dreams Go to Die", com voz maquilhada de efeitos, lentidão quase fúnebre e sintetizador a colmatar a ausência das cordas; ou "Outer Space", momento sci-fi "cheesy", mas otimista, que escreveu para uma amiga.
"Desculpem a minha voz. Fiquei doente e estou a perdê-la, mas não quis cancelar", explicou Grant antes de partir para as canções mais desafiantes da noite. "Los", recuperada ao grito de despedida dos Czars, Goodbye (2004), foi oferecida de forma solitária, ao piano, mas foi com "Queen of Denmark" (tema escrito na "parte de trás de um automóvel, na Escócia, depois de um mau concerto") que o músico mais penou para ultrapassar (com distinção, dizemos nós, apesar de imperfeições, que deram à interpretação intensa um sabor e emoção adicionais) as exigências de um refrão esmagador. Os aplausos, adivinhamos, só não foram servidos de pé por vergonha.
O final estava próximo e não podia ter sido melhor entregue que ao desespero agudo e comovente de "Little Pink House". "Vemo-nos em breve", atirou John Grant antes de abandonar o palco para não voltar. Desculpas aceites. Mas só porque acreditamos que o seu regresso não vai tardar, para continuar a alimentar um amor que se adivinha duradouro e com espaço para crescer. Exponencialmente.
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Em Sintra foi assim, em Espinho houve encore com a "JC hates faggots", que diga-se foi uma dose de energia brutal! E a voz estava impecável... Como diz o meu tio..."Já vai das sortes..."
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