Cineasta reage dizendo um "enorme obrigado" a quem o apoiou. Washington expressa "decepção" e garante que continuará a tentar que seja castigado por abuso sexual de uma menor
A Suíça pôs ontem fim à recente saga legal de Roman Polanski, recusando extraditá-lo para os Estados Unidos, onde foi condenado em 1978 por "relações sexuais ilegais" com uma menor de 13 anos. Polanski "é agora um homem livre", depois de ter estado quase dez meses sob prisão domiciliária no seu chalet nos Alpes suíços.
A decisão põe um ponto final no mais recente - e dramático - desenvolvimento de um caso com mais de 30 anos. Polanski tinha sido detido em Setembro do ano passado em Zurique, ao abrigo de um mandado de captura internacional emitido em 2005. Foi depois colocado sob detenção domiciliária, enquanto as autoridades suíças avaliavam o pedido de extradição dos EUA, que querem que cumpra pena por uma acusação de 1978.
A ministra suíça da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf, anunciou ontem em conferência de imprensa que Polanski estava agora livre. "Ele pode ir para a França ou a Polónia, qualquer país onde não seja preso" - ambos os países não extraditam os seus cidadãos. "Os Estados Unidos não poderão recorrer da decisão da Suíça", explicou a ministra. Widmer-Schlumpf sublinhou que não estava em causa uma avaliação da culpa, mas que havia uma falha no pedido de extradição dos EUA, e considerou ainda que "interesses nacionais" haviam sido tidos em conta na decisão.
Roman Polanski reagiu com uma declaração lida pelo seu advogado, dizendo "um enorme obrigado" aos seus apoiantes - a sua detenção gerou uma onda de indignação em Hollywood e no establishment político e cultural em França. A sua mulher, a actriz Emmanuelle Seigner, tinha falado do "fim do pesadelo" e disse que esperava poder recomeçar "a vida normal" com o marido e os dois filhos.
Os EUA deram conta da sua "decepção" e garantiram que vão continuar a tentar que o realizador seja extraditado para cumprir pena de prisão.
Especialistas legais norte-americanos não concordam se esta decisão será o final do filme: o advogado Robert Ruelando defendeu, em declarações à estação norte-americana Fox News, que "chegará uma altura em que o Ministério Público da Califórnia terá de decidir se quer continuar com algo que está a ter tanto esforço e custo" - ainda mais quando outros países que poderiam extraditar o realizador podem ser dissuadidos após esta decisão da Suíça.
"Polanski ainda é um homem marcado", disse por seu lado Robert Mintz, que trabalhou no Ministério Público e é hoje sócio da firma McCarther & English, à agência Reuters. "Mesmo tendo conseguido escapar a este pedido de extradição, isso não quer dizer necessariamente que não haja outros países que decidam seguir o pedido das autoridades norte-americanas."
Polanski tem vivido em França e nunca voltou aos Estados Unidos desde 1978 - não foi, por exemplo, receber o Óscar de melhor realizador pelo filme "O Pianista", em 2003.
As reacções à libertação de Polanski foram sobretudo de regozijo: o escritor e filósofo francês Bernard-Henri Lévy tinha sido o primeiro a fazer circular uma petição pela libertação de Polanski e foi ontem um dos primeiros a reagir, dizendo estar "louco de alegria". O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, congratulou-se pela libertação de Polanski, assim como o ministro da Cultura, Frédéric Mitterrand.
No entanto, algumas vozes expressaram desalento: a líder de uma associação norte-americana de crianças vítimas de abusos, Barbara Blaine, criticou ao Los Angeles Times a decisão que deixa sair em impunidade um homem que "cometeu um crime sexual hediondo contra uma menina".
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