Que vemos quanto tentamos ver as coisas à nossa volta? Ou ainda: a política é uma arte do real ou uma vertigem do irreal? São perguntas para reformular através do fabuloso filme de Roman Polanski, O Escritor Fantasma -- este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 de Julho), com o título 'A arte de todas as máscaras'.
Há um novo-riquismo cinéfilo (por vezes, também jornalístico) que parece acreditar que, em cinema, o naturalismo se combate através da mera proliferação de efeitos especiais. É uma visão pueril que ignora as subtilezas da arte narrativa de grandes cineastas como Roman Polanski e a discreta genialidade de filmes como O Escritor Fantasma.
Não que haja aqui uma técnica banal. Bem pelo contrário: repare-se apenas no assombramento que percorre as cores das imagens de Pawel Edelman (director de fotografia polaco que já trabalhara com o cineasta em O Pianista e Oliver Twist, respectivamente em 2002 e 2005). Acontece que Polanski se cola aos elementos mais físicos da realidade para ir instalando a sensação discreta, mas inquietante, de que nada funciona, a impostura reina, tudo é máscara. Talvez se possa dizer que Polanski é o mais céptico dos realistas: nos seus filmes, os seres humanos inventam artifícios e disfarces para lidar com os monstros que os habitam. Resta lembrar que O Escritor Fantasma filma os bastidores da política...
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