domingo, 22 de março de 2009


Rob Spence é um realizador e produtor canadiano. Nunca fez nada de relevante no passado para ser reconhecido, mas pelos vistos, vai fazer. Rob Spence perdeu um olho quando tinha 13 anos devido a um disparo fortuito de uma arma de fogo. Teve de remover o olho ferido e colocar um de cristal. Agora tem 36 anos e tomou uma decisão que pode mudar a sua vida: reuniu uma equipa de engenheiros e médicos com o objectivo de elaborar uma prótese ocular que consiga incorporar uma mini-câmara. Essa mini-câmara será composta por um microship capaz de filmar e transmitir tudo o que vê.
Com as imagens recolhidas por essa espécie de olho robótico (chama-lhe "Eyeborg"), Rob Spence pretende fazer o primeiro documentário filmado com uma prótese ocular. O realizador quer, de igual modo, denunciar a fragilidade do direito à privacidade numa sociedade onde aumenta a vigilância global e tecnológica (imagino o que não fariam os serviços secretos de todo o mundo com um dispositivo como este para fins de espionagem internacional - e não só). Há um ano, escrevi sobre o artista cibernético Stelarc, que implantou uma orelha no braço com fins estético-tecnológicos. O caso do realizador canadiano, apesar de algumas semelhanças com o do Stelarc, tem contornos e fins distintos. O "olho-câmara de filmar" de Spence parece inaugurar uma era na qual o corpo humano se transforma, à custa da tecnologia, numa espécie de humanóide (ou cyborg).
Nos anos 20 do século XX, o realizador de vanguarda russo Dziga Vertov inventou o conceito "Kino-Glaz", ou "Cine-Olho": a câmara funciona como terceiro órgão ocular, instrumento que complementa o olho orgânico. Foi com a teoria do "Cine-Olho" que Vertov captou a realidade tal como ela era, filmando obras como "O Homem da Câmara de Filmar". Agora, Rob Spence, está a um passo de materializar, em termos absolutos e teóricos, o desejo do cineasta russo. Ou seja, um dia veremos na sala de cinema um documentário filmado integralmente por um "olho".
Rob Spence tem um blogue - Eyeborg.


disponível em: http://ohomemquesabiademasiado.blogspot.com/

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