Os Mercury Rev passaram esta última segunda-feira por Lisboa, onde marcaram presença numa Aula Magna a meia casa mas cheia de fãs. O pretexto foi o novo álbum "Snowflake Midnight", um daqueles discos que não dizem muito no diálogo íntimo da reprodução, mas quando transportados para palco atingem-nos como um raio eléctrico de intensidade arrepiante. É essa energia que nos trazem temas como 'Snowflake in a Hot World', 'Butterfly's Wing', 'Dream of a Young Girl as a Flower' e 'People Are So Unpredictable'. A proposta ao vivo do quinteto norte-americano é a de elevar-nos através de picos sónicos como se tratasse de uma viagem cósmica, a tal que é sugerida pelo nome da banda, com paragens intensas em cada planeta, sítios idílicos com um toque de tristeza com nomes como 'You're My Queen', 'Holes', 'Tonite it Shows' e pausas para o reabastecer de emoções em ilhéus imaginários que se podiam chamar 'Opus 40', 'Black Forest (Lorelei)' e 'Tides of the Moon'. Na noite de Lisboa, além da entrega absoluta em palco dos cinco músicos, destaque para o esforço e a importância da bateria de Jeff Mercel e a voz de outro mundo de Jonathan Donahue, figura proeminente dessa música com que devem ser feitos os sonhos, também provado nas andanças com outros reis do experimentalismo made in america, os Flaming Lips de Wayne Coyne. Sempre sorridentes, os Mercury Rev agradecem com felicidade sincera cada vez que o público tem a oportunidade de aplaudir entre músicas, poucas, já que os temas sucedem-se quase sem paragem, para não dar hipóteses de sair do encantamento.Apesar da consistência ao vivo dos novos temas, irrepreensíveis no seu pouco tempo de rodagem em palco, são as canções de álbuns incontornáveis como "Deserter's Songs", "All is Dream" e "The Secret Migration" que recebem o maior carinho do público lisboeta, mais velho que o que normalmente povoa os concertos de música tida como alternativa, a provar que os Mercury Rev não fazem parte destes tempos de reciclagem musical. Em troca o público levanta-se das cadeiras almofadadas da Aula Magna para aplaudir em pé a saída da banda ao som da versão de 'Once in a Lifetime' dos Talking Heads. O natural encore traz 'Goddess on a Highway', 'The Dark is Rising' e o final da epopeia com uma 'Senses on Fire' apocalíptica.
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